Título: PT quer abafar mensalão, acusa Serra
Autor: Lima, Vandson
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2012, Política, p. A6

José Serra (PSDB) parece definitivamente disposto a trazer a discussão em torno do julgamento do mensalão - que esta semana pode condenar os petistas José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino por corrupção ativa - ao centro da disputa pela Prefeitura de São Paulo. Depois de sublinhar a questão em seu pronunciamento após a divulgação dos resultados do primeiro turno da eleição paulistana, o tucano voltou à carga ontem, ao dizer que a decisão do eleitor se dará em torno de "valores" e das companhias de cada postulante.

"A gente elege um governante e o que vai comandar depois é o estilo, com quem ele anda junto, qual é a experiência que tem, qual é o seu time. Isso tudo tem que ser debatido", afirmou depois de uma caminhada pelo bairro de Vila Formosa, na zona sudeste da cidade. O tucano obteve 37,1% dos votos na região.

Para Serra, o mensalão é assunto "óbvio", já que está presente em noticiários e no debate público. "Por que haveria de estar de fora da campanha? De jeito nenhum", sentenciou. Serra avaliou que o PT, ao trazer a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a campanha de Fernando Haddad (PT), tenta nacionalizar a disputa e tirar do foco o julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal (STF). "O PT vai querer usar essa eleição para apagar, abafar a questão do mensalão. Isso é muito claro. Querem usar a questão nacional para abafar o mensalão", avaliou.

Apesar disso, o tucano disse que no que depender dele, a disputa pela sucessão paulistana será feita em torno de "ideias, propostas e biografia, nada de baixaria", avisou, antes de provocar. "Do outro lado não posso dizer. Eles [PT] têm uma bela tradição de baixarias em campanha".

O candidato do PSDB desconversou quando perguntado sobre eventuais alianças no segundo turno. "Isso é o pessoal do partido [PSDB] que vê". Questionado se haveria algum apoio que não gostaria de receber, respondeu: "Aqui não é serviço de informação ao adversário".

Segundo seus pares, muitas conversas informais ocorreram desde o anúncio do segundo turno, mas nada conclusivo. O prefeito Gilberto Kassab (PSD), o coordenador da campanha Edson Aparecido e o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) são os principais articuladores.

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) pode ter peso decisivo na conquista dessas alianças, já que planeja fazer uma reforma em seu secretariado depois do segundo turno e pode alocar parceiros no alto escalão da gestão estadual. Até o momento, o PPS de Soninha Francine e o PDT de Paulinho da Força, que já compõem a base do governo, são as legendas com mais possibilidades de um acordo.

Já no caso da chapa PRB-PTB, que teve Celso Russomanno como candidato, os tucanos mantêm toda cautela possível. A composição com o PTB é vista como mais viável, mas o PRB comanda um ministério no governo federal, o que dificultaria um acerto. O grupo serrista trabalha com a hipótese de PTB e PRB tomarem caminhos distintos - o primeiro rumo aos tucanos e o segundo aliando-se aos petistas, enquanto Russomanno ficaria neutro.