Título: Campos deve apoiar Haddad para se aproximar de eleitor paulista
Autor: Camarotto, Murillo
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2012, Política, p. A11

Sacramentada a vitória em primeiro turno no Recife, uma prioridade, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), tem agora mais tempo livre para pavimentar a pista de decolagem de seu voo nacional. Além das três capitais onde o PSB disputará o segundo turno (Fortaleza, Cuiabá e Porto Velho), Campos deverá se envolver nas eleições em Curitiba, Florianópolis, Manaus e João Pessoa. Ele também aguarda um convite do PT para participar da disputa na capital paulista.

Uma reunião da Executiva Nacional do PSB, marcada para acontecer amanhã, em Brasília, irá definir os rumos do partido durante o segundo turno. Entretanto, na manhã de ontem, ainda na ressaca das eleições, o governador já participou de articulações. Uma delas em Curitiba, onde o prefeito Luciano Ducci (PSB), apoiado pelo governador Beto Richa (PSDB), protagonizou uma das principais surpresas da eleição, ao ficar em terceiro lugar na disputa.

Com seu partido fora do páreo, Campos deve pedir votos para Gustavo Fruet (PDT), que é apoiado pelo PT da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, potencial candidata à sucessão de Richa em 2014. Um dirigente do PSB paranaense ficou de conversar, ainda ontem, com o governador tucano, a fim de evitar maiores atritos. A tendência, entretanto, é a de que Campos siga mesmo com Fruet.

O PSB também vai ficar contra os tucanos em Manaus. Com a derrota do candidato do partido, Serafim Correa, que ficou em quarto lugar, Campos deve fechar com Vanessa Grazziotin (PCdoB). Ela vai enfrentar, no segundo turno, o ex-senador Arthur Virgílio (PSDB), com quem o governador de Pernambuco mantém boas relações.

Eduardo Campos também se colocou à disposição do PT para participar da campanha de Fernando Haddad no segundo turno em São Paulo, na disputa com José Serra (PSDB). Além do afago no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador tem interesse em se tornar mais conhecido do eleitorado paulista. Pelo mesmo motivo, ele também deve voltar a Campinas, onde o candidato do PSB, Jonas Donizette, disputa o segundo turno.

A eleição em São Paulo foi a responsável pelo resfriamento do namoro entre o PSB e o emergente PSD. O processo de criação da legenda presidida pelo prefeito Gilberto Kassab contou com a participação dedicada de Campos, e a expectativa era a de que um bloco importante seria formado. No entanto, a candidatura de José Serra (PSDB), que recebeu a benção imediata de Kassab, acabou afastando os dois partidos, já que o PSB não poderia apoiar o tucano. Ainda assim, Campos deve patrocinar o candidato do PSD à Prefeitura de Florianópolis, Cesar Junior.

Apesar dos embates contra o PSDB no segundo turno, o governador de Pernambuco disse ontem que não irá "importar o modelo paulista" de polarização entre petistas e tucanos. Garantiu que seu partido segue fiel ao governo da presidente Dilma Rousseff em Brasília, mas que manterá suas alianças com o PSDB. Segundo ele, o legado tucano deve ter seu valor reconhecido. "Temos que ter maturidade para reconhecer a importância da estabilidade econômica e da universalização do ensino", disse.

No dia seguinte à eleição na qual o PSB elegeu 436 prefeitos, 42% a mais do que no pleito anterior, Campos foi muito requisitado pela imprensa do Sudeste. Previsível, a pergunta comum a todos os jornalistas tratava dos planos do governador para 2014, quando ele poderá disputar a Presidência da República. Na resposta, ele repetiu que não é o momento ideal para tratar do tema e elegeu outras prioridades, como o segundo turno das eleições, o pós-crise econômica mundial e o novo pacto federativo. "Vocês terão que ter paciência para ouvir a mesma resposta. Eu prometo que terei paciência para ouvir a mesma pergunta."