Título: Empresários cobram mudanças na equipe
Autor: Vieira, André
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2006, Política, p. A16

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Mal concluído o segundo turno das eleições, os empresários já cobram do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que anuncie o quanto antes mudanças em sua equipe econômica. As alterações indicariam o caminho que o presidente quer seguir no segundo mandato em questões como crescimento econômico e corte de gastos públicos.

"Espero que comece já a nova agenda do presidente eleito, a agenda do crescimento", disse o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. Ele afirmou que espera uma queda mais acelerada nos juros e, portanto, mudanças breves na equipe econômica. "É possível mudanças no Banco Central", afirmou Skaf. "Não faz sentido a manutenção de uma equipe equivocada."

Para o presidente da Fiesp, a política monetária durante o primeiro mandato se mostrou equivocada, gerando baixos índices de crescimento econômico. "Nos últimos dois anos, por conta do exagero desta política de juros, 3 milhões de empregos deixaram de ser criados." Skaf defendeu a manutenção no cargo do ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Ele tem uma visão a favor do crescimento."

Para Cláudio Vaz, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), o segundo mandato começa hoje e quanto mais cedo as mudanças acontecerem, melhor. Ele ressalta, porém, que a política econômica não é determina pela Fazenda ou pelo Banco Central. "É uma política de governo e não de pessoas", ressaltou Vaz, que apoiou Geraldo Alckmin.

Vaz disse que a alteração que mais espera é a colocação do foco no crescimento, com desoneração dos investimentos, equivalência entre investimentos financeiros e produtivos e avanços nos marcos regulatórios e nas Parcerias Público-Privadas (PPP).

"Não acredito na necessidade de mudanças de nomes, mas o presidente é quem tem de dar o tom da política econômica", afirmou o co-presidente da Suzano Petroquímica, João Nogueira Batista. Segundo ele, ao contrário das últimas eleições, o presidente Lula deverá assumir o segundo mandato sem crise econômica, além de contar com um cenário internacional bastante favorável. "Com isso, Lula terá a chance inverter a agenda econômica pela política. A reforma política é a mais importante porque abre espaço para as demais." Para ele, as mudanças políticas dariam maior coesão partidária para que fossem realizadas as reformas tributária e previdenciária.

No campo político, o presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), Alfried Plöger, afirma ainda que a primeira tarefa de Lula deverá ser a de "fechar a fenda" aberta na eleição presidencial, que dividiu o país entre ricos e pobres, entre o Norte e o Sul. "Precisamos ver quão profundas são essas feridas", afirma Plöger. No campo econômico, ele diz que é preciso dar condições para que os empresários invistam. A solução da equação energética e o fim das dúvidas que pairam sobre o fornecimento de gás da Bolívia são essenciais, segundo ele.

Ray Young, presidente da General Motors para Brasil e Mercosul, diz que Lula deve trabalhar uma agenda que garanta crescimento de ao menos 5% ao ano. Há um ditado, em inglês, que diz "quero ver ação". "É o que também queremos ver no novo governo".

(Colaborou Patrícia Nakamura)