Título: PT e PMDB queimam a largada
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 21/11/2010, Política, p. 6

Antes da posse do novo governo, aliança entre os partidos está desgastada. Cândido Vaccarezza e Henrique Eduardo Alves são os pivôs da crise

Desde que se tornaram aliados, as relações entre PT e PMDB nunca estiveram em estado tão deteriorado como agora, faltando 41 dias para a posse e 26 para a diplomação da presidente eleita, Dilma Rousseff. Os personagens dessa crise ¿ recorrente no mundo político ¿ são dois líderes governistas: os deputados Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e Cândido Vaccarezza (PT-SP). O pano de fundo é a disputa pela Presidência da Câmara. Por trás disso, está a briga real entre os dois partidos: qual prevalecerá na Esplanada dos Ministérios com as pastas mais atraentes financeiramente.

Os petistas atribuem o desgaste à movimentação antecipada de Alves para formar um bloco com 202 deputados sob o pretexto de fortalecer sua empreitada de olho na Presidência da Câmara. O peemedebista reuniu PR, PTB, PP e PSC em torno de sua intenção de disputar o cargo, em fevereiro do ano que vem. Essa jogada, no entanto, é vista pelo PT e por aliados como uma tentativa de fortalecer essas siglas na negociação sobre o futuro ministério de Dilma. ¿Não podemos dar corda para a turma do PMDB da Câmara¿, disse o presidente do PT, José Eduardo Dutra.

Os peemedebistas rebatem, dizendo que a corrosão da relação deve-se à incapacidade de o PT dividir o bolo administrativo e almejar todos os cargos importantes da República e da Esplanada. Os petistas pretendem desalojar o partido do vice-presidente eleito, Michel Temer, da Saúde e das Comunicações, e ainda tomar o Ministério das Cidades do PP e, se conseguir, levar os Transportes, hoje com o PR. ¿Os caras querem tudo¿, esbravejou Alves a amigos.

A desconfiança petista chegou a Temer. Parlamentares dizem que Henrique Eduardo Alves não faria a movimentação sem avisar o correligionário e amigo de longa data. Dilma escalou Dutra para evitar que as negociações na Câmara contaminem o governo logo no primeiro momento e enquadrou Temer para ele acabar com o blocão.

Primeira Secretaria Em reunião com senadores do PT, o presidente da legenda pediu que não seja elaborado um movimento na Casa para se contrapor a Alves. Ainda desencorajou os senadores a tentar chegar à Presidência do Senado e se ¿contentarem¿ com a Primeira Secretaria. O recado dado foi o seguinte: não entrar no jogo de Alves para não criar confusão para a presidente eleita. Mas como em política um acordo sempre vem acompanhado de ameaça, os senadores petistas prometem montar o bloco e buscar a cadeira mais alta da Mesa Diretora caso Alves não desista.

Temer, que ouviu de Dilma que ele precisa atuar como vice-presidente, e não como comandante do PMDB, tentou, sem sucesso, apaziguar os ânimos entre Alves e Vaccarezza e começou a minimizar os efeitos do blocão. ¿O que houve foi uma intenção, uma espécie de protocolo de intenções¿, afirmou o vice. Vaccarezza também tenta forçar a situação para que o PT eleja o presidente da Casa no ano que vem por recear perder influência. O mais curioso é que Vaccarezza só atingiu o status de liderança na Câmara graças a Alves. Os dois juntaram forças para tocar a Câmara quando a liderança do governo estava sem representatividade. Agora, os dois se digladiam.

ESTRANHAMENTO » Não é de hoje que PT e PMDB se estranham. No período pré-eleitoral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva patrocinou uma manobra para colocar o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, como vice de Dilma. A jogada foi desenhada por Lula não confiar em Temer, que antes de aderir ao governo era aliado e interlocutor do PSDB, sobretudo de José Serra. Durante a campanha, Temer foi jogado para escanteio, participou de apenas um programa de televisão. Nos palanques, era sempre relegado ao segundo plano. Os peemedebistas ficaram furiosos e fizeram cobranças públicas de tratamento igualitário. Agora, com medo de perder pastas gordas da Esplanada, o PMDB da Câmara tentou se cacifar.