Título: Vice de Chávez diz que estatizações vão continuar no país
Autor: Murakawa, Fabio
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2012, Internacional, p. A15

O vice-presidente da Venezuela, Elías Jaua, disse ontem que o presidente Hugo Chávez manterá em seu próximo mandato, que começa em janeiro, a agenda de expropriações e estatizações de empresas que marcaram seus 14 anos de governo até aqui. Chávez foi reeleito anteontem para um novo período de seis anos, em uma disputa contra o candidato da oposição Henrique Capriles.

Em declarações anteriores, Chávez e auxiliares próximos já haviam dito que um dos objetivos do presidente no período entre 2013 e 2019 era aprofundar o "Socialismo do Século XXI", levando a "Revolução Bolivariana" a um ponto "sem volta". Em entrevista à agência de notícias Reuters, na madrugada de ontem, após o anúncio da vitória do presidente nas urnas, Jaua explicou o que isso significa. "Fortalecer o controle de elementos estratégicos de nossa economia, como a energia, a alimentação do povo, os insumos para a construção", afirmou o vice-presidente.

Na entrevista, Jaua reiterou as advertências já feitas pelo governo contra algumas empresas, sobretudo do ramo alimentício, a quem o governo acusa de práticas de especulação. "Não vamos permitir que um grupo monopólico, um grupo com poder econômico, se atreva a chantagear politicamente a sociedade", afirmou. "Eles [os empresários] não podem condicionar o povo a suas decisões políticas. Aqui há um espaço [para as empresas], sempre e quando se subordinem à Constituição e aos interesses da nação."

Em declarações anteriores, alguns auxiliares de Chávez já haviam indicado que o governo buscaria aumentar o controle sobre a economia. Jesse Chacón, ex-ministro das Comunicações e do Interior e ex-secretário de gabinete de Chávez, afirmou ao Valor antes das eleições que as empresas e as multinacionais que queiram atuar na Venezuela terão que atuar dentro de "um modelo construído sob o conceito de Estado forte, ao contrário de outros modelos na América Latina e na Europa".

Chávez venceu as eleições do domingo com mais de dez pontos de vantagem sobre Capriles. No boletim mais recente, com 97,65% dos votos contabilizados, ele tinha 55,14% contra 44,24% de Capriles. Isso representava 8,06 milhões de votos para o presidente, contra 6,46 milhões para o rival.

"O resultado não foi nem tão apertado quanto acreditava a oposição nem tão dilatado quanto queria o governo", resume uma fonte brasileira com boas relações com membros do governo venezuelano.

Para analistas, a profundidade e a rapidez com que esse "aprofundamento do socialismo" deve acontecer dependerá da interpretação do presidente sobre sua própria vitória nas urnas. "Creio que Chávez tende a interpretar que sua reeleição significa a ratificação dessas políticas ideológicas", diz José Antonio Gil Yepes, diretor da empresa de pesquisas Datanálisis. "Mas, na minha opinião, isso é um equívoco."

Para Yepes, o aval que Chávez recebeu das urnas está mais relacionado às suas políticas sociais do que a temas ligados à sua ideologia, como o controle do Estado sobre os meios de produção e uma negação da "burguesia". "As pessoas votam em Chávez porque recebem subsídios para comprar uma casa, móveis mais baratos, alimentos mais baratos", afirma.

Para Héctor Briceño, do Centro de Estudos de Desenvolvimento da Universidade Central da Venezuela (UCV), Chávez tem agora o desafio de tentar aumentar a eficiência do modelo produtivo que ele pretende consolidar. Mas diz que a tendência é que haja um "aprofundamento da economia de escassez ou de porto", com o aumento das importações de alimentos e outros insumos importantes, enquanto o petróleo segue sendo praticamente o único produto de exportação do país. "O ingresso da Venezuela no Mercosul pode ter um papel importante nesse sentido", diz ele.

Briceño também prevê que o governo seguirá promovendo o fortalecimento dos conselhos comunais, ou "comunas", em detrimento do poder de prefeituras e governos de Estado. Ao mesmo tempo em que significa uma certa descentralização administrativa, esse movimento representa "um mecanismo de maior controle social sobre a sociedade" por parte do governo, afirma Briceño.

Nas eleições de anteontem, Chávez saiu vencedor em 20 dos 24 Estados venezuelanos. Um dos desafios agora é manter esse bom desempenho nas eleições para governador, previstas para o próximo mês de dezembro. Segundo Yepes, da Datanálisis, o chavismo já controla 19 Estados e deve manter um número próximo a esse após a votação. Para analistas, Chávez só deve adotar medidas polêmicas, como estatizações e uma desvalorização do bolívar, após as eleições para governador, quando o tabuleiro político ficará mais definido.