Título: Morales é o primeiro a saudar reeleição do 'companheiro'
Autor: Rocha, Janes
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2006, Política, p. A16

Nem Kirchner, nem Chávez, nem Fidel. O primeiro líder latino-americano a comentar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o boliviano Evo Morales, justamente aquele que causou as maiores dores de cabeça para a campanha petista.

A vitória de Lula era amplamente aguardada pelo presidente da Argentina, Néstor Kirchner, que, em mais de uma ocasião manifestou sua torcida pela reeleição do presidente brasileiro. Após o último encontro de Kirchner com Lula, em Nova York, para a abertura da Assembléia Geral das Nações Unidas, no fim de setembro, Alberto Fernández, chefe de governo da Argentina comentou sobre a campanha pela reeleição: "Temos muito apreço (por Lula) e queremos que tudo dê certo para ele".

Uma eventual vitória de Alckmin era vista com receio, não apenas na Casa Rosada, sede do governo argentino, mas também entre os empresários do país, que temiam uma mudança no enfoque da política externa e até uma desvalorização do real frente ao dólar - uma reivindicação dos empresários brasileiros que apoiavam o candidato do PSDB.

Lula ganhou também entre os eleitores brasileiros que vivem na Argentina, com 51,82% dos votos. No Consulado do Brasil em Buenos Aires e em Córdoba votaram 1.048 brasileiros (964 na capital e 84 em Córdoba). Desse total 543 votaram em Lula e 468 (44,66%) em Geraldo Alckmin. Os votos brancos foram 19 (1,82%) e nulos 18 (1,72%). Lula ganhou em todas as quatro seções de Buenos Aires e em Córdoba.

Na Bolívia, o presidente Evo Morales, afirmou ontem que "o triunfo do companheiro Lula ratifica a linha de mudança que se iniciou nos últimos anos mostrando mais uma vez que os povos seguem lutando por avanços para resolver os grandes problemas das maiorias marginalizada do nosso continente".

Além da própria Bolívia, Uruguai, Argentina, Venezuela, Chile e o Brasil são governados por partidos de esquerda ou centro-esquerda. O presidente boliviano e o venezuelano Hugo Chávez foram os líderes sula-americanos que demonstraram apoio mais explícito à candidatura de Lula.

Morales, cujo governo acabou forçando Brasília a aceitar uma negociação desgastante em torno da atuação da Petrobras na Bolívia, fez uma menção indireta a novas negociações.

"Com a vitória de Lula se abrem possibilidade de fortalecer a cooperação e os acordos políticos, econômicos e culturais com um país como o Brasil."

Para Vicente Díaz, o diretor do Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, a eleição no Brasil foi uma lição de civismo. "Foi um processo complemente cívico, as autoridades eleitorais estão batendo recorde na divulgação dos resultados", disse Díaz, que foi um dos observadores internacionais do pleito. Ele ressaltou que os observadores deram mostras de imparcialidade e que isso é mais um sinal da independência do processo brasileiro.

O louvor à atuação deles pode parecer estranho aos brasileiros, mas, em diversos países da América Latina, os observadores são hostilizados por diferentes facções políticas. Na Venezuela, o presidente Hugo Chávez denunciou a atuação da OEA quando da realização dos últimos pleitos no país.

(Com agências internacionais)