Título: Maia prevê Câmara estéril, sem chances de votar reformas
Autor: Totti, Paulo e Magalhães, Heloisa
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2006, Política, p. A19

Vice-presidente do PFL nacional e prefeito do Rio, Cesar Maia aplaudiu na semana passada quando ouviu do governador eleito de Sergipe, Marcelo Déda (PT), a declaração de que é necessário "despaulistizar" a política brasileira. Mas, ontem à tarde, manifestava sua decepção em entrevista ao Valor. " Fiquei sabendo que Marta Suplicy será a ministra das Cidades para, dali, lançar-se candidata à Prefeitura de São Paulo pelo PT. Vai começar tudo de novo: em pouco tempo, o debate sobre a sucessão de São Paulo vai ocupar todo o espaço da política nacional. E pode piorar se Alckmin, tido como possível presidente do PSDB nacional, também concorrer à Prefeitura de São Paulo".

Segundo Maia, há outros motivos para não acreditar em grandes melhoras na política brasileira como resultado da campanha eleitoral ontem encerrada. "Você terá uma Câmara estéril. Reformas, esquece! O Lula, com medo do segundo turno, caminhou para o discurso tradicional de esquerda, privatizações, nacionalismo, populismo. Isso criou compromissos dele com setores contrários às reformas. Pode haver alguma coisa na área da reforma política, infidelidade partidária, algo assim. Mas reforma para valer não vai interessar à principal força que vai se coligar com Lula, o PMDB. Reforma tributária, previdenciária, trabalhista, isso acabou".

No alto da Gávea Pequena, sentado no sofá da sala da confortável residência oficial de prefeito e de controle remoto na mão para constantemente mudar da TV Globo para a Globo News, e da Globo News para a TV Globo, conferindo os dados que já conhecia sobre a eleição de Sérgio Cabral (PMDB) ao governo do Rio, com 36 pontos percentuais de vantagem sobre a candidata que apoiou, Denise Frossard (PPS), Cesar Maia não se declara derrotado.

"Minha base é a cidade do Rio de Janeiro e, aí, meus candidatos a deputado, Rodrigo Maia, Solange Amaral e Índio da Costa, ficaram, respectivamente em segundo, terceiro e quarto lugares. O primeiro foi o (Fernando) Gabeira (PV) e o quinto Chico Alencar (P-SOL)". Os dados que a TV apresentava confirmam em parte a satisfação de Maia também em relação à eleição de ontem. No município do Rio, Denise Frossard diminuiu para 17 pontos percentuais sua diferença para Sérgio Cabral. "No Rio, diria que a hegemonia do PFL é cavalar".

O prefeito do Rio já começou a pensar nas eleições para seu sucessor em 2008. E o fez da maneira com que inicia todas as suas articulações, uma pesquisa. Já no sábado um instituto pesquisava as preferências dos cariocas para daqui a dois anos. E nesta segunda-feira vai conhecer os resultados.

Maia não quer ser presidente do PFL com a "aposentadoria" já anunciada do senador Jorge Bornhausen. " Não é do meu temperamento e é também o meu defeito. Não tenho paciência para articular uma máquina partidária. Se me consultarem, recuso. Se votarem em mim, renuncio".

Maia não concorda quando dizem que o PFL perdeu nestas eleições. "O que tínhamos antes? Bahia e Sergipe. Hoje temos o Distrito Federal e uma vitória importante na eleição para o Senado".

O prefeito acha, até, que as eleições de 2006 serviram para completar o que, segundo ele, Bornhausen teria anunciado no ano passado como "refundação" do PFL. "Encerra-se o ciclo de políticos do PFL com origem no regime de arbítrio. Bornhausen, Antonio Carlos Magalhães, Marco Maciel, são paulatinamente substituídos por gente mais jovem, Arruda (José Roberto, eleito governador no Distrito Federal) por exemplo, é um hábil político, competente e dinâmico. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, é outro".

Amigo, desde o exílio no Chile, do governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), Cesar Maia queria fazê-lo o candidato da aliança PSDB-PFL à Presidência. Foi difícil engajar-se na candidatura de Geraldo Alckmin. Mas, diz-se admirador agora do candidato derrotado ao Planalto, "figura maravilhosa, trabalhador incansável". As críticas que Maia faz à campanha do tucano, porém, são contundentes, já manifestadas por ele em seu "ex-blog". O prefeito tinha um blog na internet, cansou-se dele e passou a redigir e-mails que envia a jornalistas, políticos, acadêmicos e a quem mais se interessar.

Para ele, os erros vão desde a falta de definição de um nome para o próprio candidato (ora Geraldo, ora Alckmin, ora Geraldo Alckmin - em Minas , Alckmín pronunciado com tônica na ultima sílaba) à aceitação da agenda fixada, não por ele, mas pelo candidato adversário. Alckmin levou tempo para iniciar a campanha, logo depois de ter sido escolhido candidato e de novo perdeu tempo, na largada do segundo turno, quando esperou quase uma semana para reiniciar os contatos com os eleitores.

"Candidato de oposição tem que desconstruir o segundo governo do governante que pretende se reeleger. Inevitavelmente, tem de fazer uma campanha negativa e pesada porque, se o governo está indo mais ou menos, isso dá segurança ao eleitor, que já conhece o governo. O eleitor fica inseguro com um candidato adversário que não conhece direito. Mostrando só as qualidades do Alckmin, a campanha não acrescentou informação fundamental para mudar. Quando Alckmin resolveu entrar mais forte, no caso do dossiê, já tinha perdido o tema".

Maia, surpreendentemente, não considera que o apoio do casal Garotinho, seu maior adversário na política fluminense, tenha tido grande influência nacional na derrota de Alckmin. "Isso só teve importância regional, localizada". Para 2010, Maia já faz planos mas não os revela. Por enquanto, diz que o seu partido deve ter candidato próprio a presidente, aproveitando que já não mais haverá desvinculação de candidaturas. "Há quadros importantes, como o Arruda, por exemplo". Diante da pergunta "e o senhor?", Maia responde: "É uma questão conjuntural".

Maia não pareceu simpático à repetição de uma aliança nacional com o PSDB em 2010. Diz não esquecer que, quando presidente, Fernando Henrique Cardoso tratou muito mal a Prefeitura do Rio. Entre José Serra e Aécio Neves, governador reeleito de Minas Gerais, para a Presidência da República em 2010, no segundo turno, possivelmente se inclinaria por Serra, mas aproveita a oportunidade para afirmar que ambos os tucanos poderão compor-se e até "formar uma dobradinha de presidente e vice, com Serra concordando em não se candidatar à reeleição em 2014, para dar lugar a Aécio".

Sobre as articulações do governador de Minas Gerais para atrair governadores, Maia afirma: "Aécio sabe ocupar o teatro, fazer uma coreografia nacional, dizer frases de efeito. Foi isso que ele sempre fez. O ponto para ele vai ser pelo final do segundo ano de governo, quando vai ter de se posicionar".

Indagado se Serra criará um novo partido, o prefeito do Rio respondeu: "Não há a menor chance".