Título: PT e CUT saem em defesa de José Dirceu e Genoino
Autor: Cunto , Raphael Di
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2012, Política, p. A6

Condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção ativa no processo do mensalão, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino foram ontem à reunião do diretório nacional do partido em São Paulo, onde se manifestaram contra a decisão, mas prometeram acatá-la. O julgamento do chamado "núcleo político" do esquema também gerou notas de protesto do PT e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), entidade ligada à legenda.

Genoino foi o primeiro a chegar ao evento. Leu um texto, primeiro para os jornalistas, depois para os cerca de 100 dirigentes do partido e convidados, intitulado "Carta Aberta ao Brasil", em que anunciou que deixará o cargo de assessor especial do Ministério da Defesa. "Retiro-me do governo com a consciência dos inocentes", afirmou. O ex-deputado federal foi aplaudido de pé pelos petistas depois da leitura.

Na carta, Genoino afirma que está indignado e que o STF errou ao condená-lo. "A Corte foi, sobretudo, injusta. Condenou um inocente. Condenou-me sem provas", afirma, ao acusar o STF de julgar com a "tirania da hipótese pré-estabelecida". "Construiu-se uma acusação escabrosa que pôde prescindir de evidências, testemunhas e provas."

O petista disse que o julgamento "transformou ficção em realidade" e reforçou a linha de argumentação de seu advogado, de que não houve compra de votos no Congresso e de que, apesar de presidente do PT, não cuidava das finanças do partido, mas ressaltou que isso "pouco importou" para os ministros do STF.

O ex-presidente do PT atribuiu a decisão à "tentativa de condenar todo um partido, todo um projeto político que vem mudando, para melhor, o Brasil" e disse que o julgamento foi feito em "meio a diuturna e sistemática campanha de ódio contra o projeto político exitoso, que incomoda setores reacionários incrustrados em parcelas dos meios de comunicação, do sistema de justiça e das forças políticas que nunca aceitaram nossa vitória".

"Nessas condições, como ter um julgamento justo e isento? Como esperar um julgamento sereno, no momento em que juízes são pautados por comentaristas políticos?", questiona na carta. O ex-deputado escreveu acreditar que, mesmo com a decisão do STF, os adversários do PT fracassarão. "O julgamento da população sempre nos favorecerá, pois ela sabe reconhecer quem trabalha por seus justos interesses", afirmou.

Já Dirceu foi mais sucinto. Chegou por volta das 13h30 na reunião em um carro preto com os vidros escuros fechados. Evitou ao máximo o contato com a imprensa e fez um breve discurso para os convidados, em que pediu para o partido se concentrar na eleição e que só depois do segundo turno será o momento de falar sobre o julgamento.

"O que tinha para falar do julgamento, já falei ontem [em texto publicado em seu blog, o ex-ministro disse que a sede por justiça será sua razão de viver]. A prioridade agora é ganhar a eleição no maior número de cidades e principalmente em São Paulo", afirmou aos militantes, que o ovacionaram, segundo relatos.

O discurso seguiu a linha de texto publicado em seu blog ontem. Nele, diz que passou horas atendendo telefonemas e respondendo e-mails e que o apoio "lhe dá força e enche sua alma de luz e vontade de lutar", mas o que "interessa agora é o segundo turno das eleições municipais".

A condenação de ambos rendeu notas de desagravo da CUT e do PT. Para a central, que no início do julgamento ameaçou ir às ruas se a decisão fosse política, o STF condenou sem provas e de maneira casuística. "[A CUT] repudia o comportamento do Supremo Tribunal Federal, que se colocou a serviço dos conservadores, da imprensa neoliberal e de todos que querem criminalizar os movimentos sociais e seus representantes no parlamento, usando, inclusive, o processo eleitoral a serviço dos reacionários."

Na nota, a CUT se diz solidária ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao PT, "responsáveis pelas profundas transformações recentes no país", sem citar os condenados no julgamento, e defendeu uma reforma do sistema Judiciário para "diminuir as subjetividades e aumentar a transparência e controle social na gestão, evitando manipulações e casuísmos na Justiça". Procurado, o presidente da CUT, Vagner Freitas, não quis dar entrevista.

O PT também elaborou texto, na reunião em que Dirceu e Genoino estavam presentes, com críticas à decisão do STF. A resolução, que tem como tema central o resultado do PT nas urnas, diz que o partido cresceu mesmo com a intensa campanha da direita brasileira para criminalizar a legenda.

A filha de Genoino também saiu em defesa do pai, em texto divulgado ontem na internet, redes sociais e lido pelo senador Eduardo Suplicy (PT) na tribuna do Senado. "A coragem é o que dá sentido à liberdade", escreveu Miruna Genoino, reproduzindo frase que, segundo ela, o pai usou para explicar o sentimento em relação à condenação. Miruna conta trechos da história do pai de luta contra a ditadura militar, ao lembrar que Genoino foi para a selva amazônica formar uma guerrilha de resistência ao regime, ficou preso por cinco anos e foi torturado com "pau de arara, queimaduras, choques e afogamentos", mas não "perdeu a cabeça e partiu para a delação" de companheiros.

O texto ainda critica a imprensa, que "manipula informações" e "se sente feliz, praticamente em êxtase, em poder noticiar a tragédia de um político honrado". Ao fazer referência à história de Genoino como guerrilheiro, Miruna diz que o pai dedicou mais de 40 anos de luta política, "jamais para benefício pessoal", e questiona se o leitor teria coragem de fazer o mesmo.