Título: Fundos decidem vender controle da Tupy
Autor: Jurgenfeld, Vanessa e Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2006, Empresas, p. A22

Os três fundos de pensão que detêm o controle da Fundição Tupy, a maior da América Latina, anunciaram oficialmente a contratação do banco Credit Suisse para vender suas participações acionárias na empresa. As negociações de Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil), Telos (da Embratel) e Aerus (da área de aviação, como Varig) poderão envolver parte das ações que possuem ou até mesmo o controle da companhia. A quantidade de ações que serão vendidas ainda não foi informada ao mercado.

Desde o fim de 2004, a Previ já sinalizava que havia interesse na venda da companhia e, segundo o Valor apurou, o CS já vem atuando com esse objetivo desde meados do ano passado.

Os fundos possuem juntos 68,8% das ações da Tupy: a Previ tem 29,3%, o Aerus, 17,7%, e a Telos, 21,08%. O Bradesco também possui participação de 7% e a BNDESPar é dona de 17,7%.

De acordo com fontes que acompanham o negócio, a operação não deve envolver oferta pública na bolsa, mas sim negociações privadas com investidores, sejam eles estratégicos ou financeiros. Em fato relevante emitido na sexta-feira, a Tupy informou que "investidores interessados na aquisição das participações societárias, incluindo o controle da companhia, apresentaram propostas, que estão sendo analisadas".

Segundo interlocutor ligado ao processo, o fato de já haver grupos interessados motivou a comunicação oficial ao mercado sobre a intenção de venda e, com isso, a instituição com mandado para realizar o processo poderia trabalhar com um cronograma mais definido. Segundo fontes do mercado, os processos de due dilligence (auditoria contábil da empresa) já foram feitos, devendo a operação estar concluída dentro de 45 dias. As conversações ocorrem com grupos nacionais, que atuam em outros segmentos que não fundição.

Além dos fundos, poderá haver venda da participação de 17,7% que a BNDESPar possui na empresa, que por direito pode se desfazer usando o mesmo tipo de operação que será feita pelos fundos.

As motivações dos sócios para vender a Tupy não são novidade. A Previ há muito tempo que tem sua carteira exposta demais ao segmento de renda variável e precisa reduzir participações para adequar-se. Já o fundo Aerus, que vinha passando por dificuldades sérias há muitos anos em função das dívidas das empresas patrocinadoras com o fundo, chegou a uma situação crítica este ano, com os problemas da Varig, e está em processo de liquidação. Por isso, precisa transformar ativos ilíquidos, como a participação na Tupy, em caixa, para continuar honrando pagamentos aos aposentados.

Segundo uma fonte próxima dos sócios, a empresa reestruturou a dívida e melhorou operacionalmente, mas tem dificuldades para continuar crescendo, pois não há interesse dos atuais controladores em investir no negócio. Hoje, a companhia segue um acordo de reestruturação da dívida, feito em 2003, que impede que a Tupy contraia novos financiamentos sem antes pagá-la. Com isso, os investimentos ficam limitados. A dívida líquida da Tupy ainda é alta - está em cerca de R$ 750 milhões -, e a geração de caixa da fundição no ano passado foi de R$ 256 milhões, devendo se manter neste ano neste mesmo patamar.

De acordo com o presidente da Tupy, Luiz Tarquínio Sardinha Ferro, as mudanças poderão ser positivas e melhorar a estrutura de capital da empresa.

Até junho deste ano, a companhia manteve sua receita líquida em R$ 836,2 milhões, praticamente o mesmo patamar do primeiro semestre do ano passado, desempenho que foi considerado bom por Tarquínio, uma vez que a empresa exporta 60% da sua produção, e teve que conviver com um dólar desfavorável.

No primeiro semestre, o lucro líquido foi de R$ 30,8 milhões. A idéia da venda das participações surgiu em 2004, uma vez que os primeiros resultados da melhora operacional começaram naquele ano, com um resultado já positivo em R$ 15 milhões. No entanto, em 2005, uma reviravolta no entendimento jurídico relacionado ao incentivo fiscal de crédito-prêmio IPI obrigou a Tupy a fazer uma provisão de R$ 164 milhões, o que anulou os lucros e resultou em prejuízo líquido de R$ 130 milhões.

Os fundos de pensão estão na Tupy desde 1995. Entregar a empresa a um pool de fundações e bancos foi a solução de capital encontrada para fazer frente ao excessivo endividamento. A diversificação do grupo, que além de negócios no setor metal-mecânico passou a atuar também nos setores químico e plástico, foi um dos motivos apontados pela empresa para a quase falência nos anos 90 do negócio iniciado em Joinville (SC) por três imigrantes alemães em 1938: Albano Schmidt, Hermann Metz e Arno Schwarz.

Com duas fábricas - uma em Joinville e outra em Mauá, no ABC paulista e oito mil empregados - a Tupy está apta a produzir 500 mil toneladas por ano e obteve receita líquida de R$ 1,67 bilhão no ano passado. A empresa faz peças e componentes fundidos para o setor automotivo (como blocos de motores) e de máquinas agrícolas, além de conexões e perfis.