Título: Telefônica adquire parte da TVA
Autor: Moreira, Talita
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2006, Empresas, p. A22

Após meses de negociações, a Telefônica assinou ontem acordo para adquirir participação acionária na TVA, operadora de TV por assinatura do grupo Abril, e poderá se tornar controladora da empresa se e quando houver mudanças na legislação do setor.

A empresa de origem espanhola terá 100% do negócio da TVA na tecnologia MMDS (microondas) e 49% das operações via cabo.

A transação foi desenhada dessa forma porque a Lei do Cabo impede que as empresas que atuam com essa tecnologia sejam controladas por investidores estrangeiros. Na área de MMDS, não há essa restrição.

"Existe interesse expresso e previsto nos contratos para que a Telefônica se torne controladora", afirmou um interlocutor que participou das negociações.

O acordo precisa ser aprovado pela Anatel e pelo Cade. Em princípio, concessionárias de telefonia não podem adquirir empresas de TV por assinatura em suas próprias áreas de concessão. A Telefônica detém a concessão no Estado de São Paulo, onde também atua a TVA.

Por conta disso, as empresas da TVA serão objeto de uma reestruturação, após a qual a Telefônica terá participação direta em alguns negócios e indireta em outros, informou a operadora de telefonia à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

O valor do acordo não foi revelado, mas a Abril declarou, por meio de uma nota, que ele permitirá abater "parte significativa de sua dívida". É o segundo passo do grupo neste ano para melhorar sua posição financeira. Em maio, a sul-africana Naspers adquiriu 30% da holding Abril S.A. por US$ 422 milhões.

Nos dois casos, os acordos interromperam os planos das empresas do grupo para se capitalizar na bolsa de valores. Ontem mesmo a TVA comunicou à CVM que irá suspender seu processo de abertura de capital, que estava em análise pelo órgão regulador. Na época da operação com a Naspers, era a própria holding da Abril que pretendia ir a mercado.

Segundo o Valor apurou com fontes que acompanharam de perto as negociações, a TVA também manteve conversas com as duas outras operadoras de telefonia fixa do país: Telemar e Brasil Telecom. Pesou a favor da Telefônica um entendimento em torno de projetos para desenvolver conteúdo multimídia. A operadora já havia feito tentativas anteriores de adquirir parte da TVA.

Para a Telefônica, a TVA é uma forma de diversificar sua oferta de serviços e também de se fortalecer para a disputa com a Telmex, sua maior rival na América Latina e acionista da Net. "A parceria busca unir as 'expertises' do grupo Abril na produção e veiculação de conteúdos e de mídia e do grupo Telefônica no segmento de telecomunicações, ampliando a oferta e oferecendo à sociedade uma importante alternativa de acesso a serviços convergentes como o 'triple play'", afirmou num comunicado.

"Triple play" é o jargão do setor para a oferta conjunta de serviços de telefonia (voz), internet e vídeo, resultado da convergência tecnológica entre telecomunicações e mídia.

Ao menos por enquanto, serão mantidas as marcas Speedy e Ajato, que respectivamente são usadas nos serviços de banda larga da Telefônica e da TVA. Além disso, o grupo espanhol não deverá alterar seus planos de adquirir uma licença de DTH (satélite) para entrar nacionalmente no mercado de TV por assinatura.

A TVA tem pouco mais de 300 mil clientes em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Foz do Iguaçu (PR), Porto Alegre, Florianópolis e Camboriú (SC). Esta última cidade não foi incluída no acordo com a Telefônica porque nela Abril tem um sócio minoritário e deverá negociar separadamente a venda dessa unidade.

TV, banda larga e voz compõem a oferta da TVA. Paralelamente, a empresa tem feito testes para implantar o chamado WiMax, sistema de internet rápida sem fio. No entanto, a companhia dispunha de pouco capital para investir e com isso vinha enfrentando dificuldades para aumentar sua base de clientes. Diante dessa situação, dois movimentos nas últimas semanas aceleraram as conversas e resultaram no acordo.

Um deles foi o pedido de abertura de capital encaminhado no início deste mês à CVM pela empresa de TV por assinatura. A TVA concluiu que a listagem em bolsa não impediria, mas poderia dificultar a atração de um investidor nesse modelo.

O outro foi a aquisição da Vivax pela Net, que é a maior operadora de TV a cabo do país e tem como principais acionistas as Organizações Globo e a Embratel, do grupo mexicano Telmex.

A compra reforçou o processo de forte consolidação que está em curso no setor e deixou a TVA - com 7% de participação no mercado brasileiro de TV por assinatura - espremida entre a empresa de satélite Sky DirecTV, detentora de 31%, e a companhia que resultará da fusão entre a Net e a Vivax, com estimados 45%.

A concentração começou em 2004, com o anúncio da fusão entre a Sky e a DirecTV, controladas pelo australiano Rupert Murdoch. Mas foi no início do ano passado, quando a Telmex adquiriu 49% do capital da Net, que o segmento mudou de aspecto. O investimento do grupo mexicano na empresa injetou recursos e movimentou um setor estagnado e atolado em dívidas.

Procuradas pelo Valor, a Telefônica e a TVA não deram entrevistas.