Título: Desemprego de jovens na AL cresce mais que no mundo
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2006, Internacional, p. A23

O desemprego entre jovens cresce na América Latina mais que no resto do mundo. Nos últimos dez anos, passou de 14,4% a 16,6%. A média mundial é de 13,2%. A incapacidade da região de criar empregos suficientes e decentes atinge de modo particular os jovens entre 15 e 24 anos, segundo estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

O total de jovens sem trabalho na região subiu de 7,7 milhões para 9,5 milhões, e "quase metade ocorre no Brasil", segundo a economista Dorothea Schmidt, uma das autoras do informe Tendências Mundiais do Emprego dos Jovens. São brasileiros 44,7% dos jovens desempregados da região, apesar de constituírem apenas 26,9% da população em idade de trabalhar.

O relatório não traz cifras específicas sobre países. Mas a economista da OIT nota que o desemprego entre jovens no Brasil pulou de 11,4%, em 1995, para 19% em 2003, último dado seguro usado pela entidade. No Chile, chega a 20%.

Hoje, mesmo um emprego não basta para garantir a estabilidade econômica de um jovem, que muitas vezes enfrenta longas jornadas de trabalho, contratos de curta duração ou informais, remuneração baixa, pouca ou nenhuma proteção social. Assim, um terço dos jovens na América Latina que têm emprego não consegue superar a linha da pobreza de dois dólares diários para sobreviver. Isso equivale a 16,7 milhões de pessoas. Deles, 6,3 milhões estão na extrema pobreza, com menos de um dólar.

A tragédia do desemprego entre os jovens é na verdade mundial. O relatório estima em 85 milhões o número de jovens desempregados globalmente, numa alta de 14,8% entre 1995 e 2005. Além disso, 300 milhões que trabalham vivem com menos de dois dólares diários.

A OIT avalia que pelo menos 400 milhões de novos empregos com melhor qualidade seriam necessários para permitir aos jovens utilizar seu potencial. Adverte que juventude sem ter o que fazer custa caro, em perda de ganhos e em custos sociais, como por exemplo prevenir crime e uso de drogas.

A taxa de jovens que não estão nem na escola nem no trabalho - um bom indicador do potencial de mão-de-obra não utilizada na população jovem - é de 21% na América Central e do Sul, comparada a 13,4% na União Européia (UE).

"Condenados ao desemprego e a condições precárias, os jovens se encontram num circulo viciosa de pobreza que afeta a auto-estima, gera desalento e limita as esperanças sobre o futuro", diz o diretor-geral da OIT, Juan Somavia.

A taxa média de crescimento do PIB na América Latina foi de apenas 2,8% nos últimos cinco anos, insuficiente para criar os empregos necessários. Mas, mesmo em economias emergentes que cresceram bem mais, a dificuldade é parecida. As economias desenvolvidas são as únicas regiões com recuo importante do desemprego entre os jovens nos últimos dez anos. Só que isso é atribuído mais ao declínio no numero de jovens na população ativa do que a estratégias de emprego bem sucedidas.

Do 1,1 bilhão de jovens no mundo, um em cada três que procura trabalho ou não encontra e abandona a busca ou deve viver com menos de dois dólares diários. Na América Latina e países em desenvolvimento, os jovens tem três vezes mais chance que os adultos de ficar sem emprego.

A OIT não comenta o programa Primeiro Emprego, lançado pelo Brasil, mas Dorothea diz que a entidade "aprecia" esforços do país.