Título: Areva e Eletronorte desenvolvem primeiro reator a óleo vegetal
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2006, Empresas, p. B1
Primeiro, foi uma troca de informações. Depois, um pedido. E, por fim, a Eletronorte, que pertence à estatal Eletrobrás, e a filial brasileira da também estatal francesa Areva desenvolveram em conjunto o primeiro reator de 242 kilovolts (kV) à base de óleo vegetal no mundo. Antes do invento, que contou também com a participação da Cooper System Power, somente alguns transformadores, inclusive com uma tensão inferior, usavam este tipo de óleo no Brasil e no mundo.
O reator, apesar de ser uma realidade e de os testes já terem sido feitos, ainda não entrou em operação. Aguarda o término de obras que estão sendo feitas na subestação, que atende a linha de transmissão entre Vilhena e Pimenta Bueno, no Estado de Rondônia, para sua instalação. Segundo a Eletronorte, a expectativa é que entre em funcionamento até meados de 2007.
Acostumada a investir pesado em pesquisa e desenvolvimento no mundo, a Areva também incluiu o Brasil no seu mapa. Tanto que gasta por aqui algo como R$ 15 milhões por ano no desenvolvimento de produtos e na melhora dos já existentes. O valor aplicado neste reator está inserida neste desembolso.
"Globalmente, aplicamos cerca de 582 milhões de euros em pesquisa, o que equivale a 5,7% da receita mundial de 10,12 bilhão de euros", conta Sergio Gomes, diretor-presidente da Areva para América do Sul. A maior parte do desenvolvimento continua sendo feita nos centros de pesquisa da Europa. Mas há também o que a companhia chama de centros de excelência, instalados em outras regiões do mundo.
A companhia não revela seu faturamento no Brasil. Ela diz apenas que a razão de crescimento tem sido de 20% ao ano na última meia década.
Se tudo der certo, a Eletronorte não descarta colocar mais desses reatores pela linhas que atendem a região amazônica. Já a Areva não dá muitos detalhes sobre seus planos e tampouco revela preços. Apenas diz que existem grupos avaliando os testes e a experiência do equipamento.
Os reatores são usados na subestação para regular a tensão da energia ao longo da linha de transmissão. Já o transformador abaixa ou eleva essa tensão.
"Os custos não vão cair, porque o vegetal é mais caro que o óleo mineral. Mas esperamos que a durabilidade seja maior e o impacto ambiental menor", afirma Roberto Dantas, gerente de projetos de subestação da Eletronorte.
Os reatores tradicionais, que usam óleo mineral, costumam durar ao redor de 30 anos. E entre os engenheiros da Eletronorte, a sensação é que o produto vegetal dure algo como 40 anos. Além disso, o equipamento a óleo vegetal também deverá trazer mais segurança na operação, porque em caso de explosão, dificilmente ele pega fogo. E se houver vazamento, garante a Areva, o vegetal é absorvido pela natureza em questão de meses, enquanto que o mineral demoraria pelo menos quatro anos.
Com três fábricas no Brasil, Canoas (RS), Itajubá (MG) e São Paulo (SP), a Areva alocará a produção desse reator na unidade gaúcha. "Fechamos o contrato em maio do ano passado com a Eletronorte e, portanto, decidimos fazer o sistema de tratamento do óleo em Canoas", afirma o diretor-presidente.
Sergio Gomes, contudo, descarta que a operação gaúcha vire centro de abastecimento desse produto para outras unidades da Areva. Na avaliação do executivo, caso tudo dê certo, Canoas deverá seguir como centro de transferência de tecnologia, funcionando mais como uma cooperadora.
Esta não é a primeira vez que uma das três fábricas da francesa no Brasil ganha um status global. A operação mineira, por exemplo, é responsável pela produção mundial do transformador para instrumento de medição na tensão 800 kV.
Da receita global de 10,12 bilhõesde euros, a Areva possui 68% atrelado ao negócio nuclear. O restante, ou seja, 32%, pertence à atividade do segmento de transmissão e distribuição. A estatal francesa também atua com esses mesmos negócios no Brasil. No entanto, não revela a divisão da receita no país.