Título: Analistas projetam alta moderada no ritmo de abertura de postos de trabalho
Autor: Machado , Tainara
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2012, Brasil, p. A4

Os sinais mais evidentes de retomada da atividade econômica nos últimos meses sugerem que o ritmo das contratações no mercado de trabalho formal irá se acelerar no quarto trimestre, ainda que de forma bastante gradual. A reação em setembro, no entanto, ainda será modesta, segundo economistas. A média das estimativas para o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), feitas por sete consultorias e instituições financeiras consultados pelo Valor Data, é de abertura de 160 mil vagas em setembro, com intervalo de estimativas entre 120 mil e 197 mil postos. O Ministério do Trabalho e Emprego divulga hoje o Caged.

Esse resultado, se confirmado, mostrará aceleração das contratações em relação a agosto, quando a criação de pouco mais de 100 mil postos de trabalho com carteira assinada frustrou analistas. O saldo líquido entre admitidos e demitidos, no entanto, ainda será inferior a setembro de 2011, quando foram criados 209 mil empregos.

Para Leandro Câmara Negrão, economista do Bradesco, o setor que deve mostrar dinâmica mais clara de retomada das contratações é a indústria, principalmente por causa dos estímulos já concedidos pelo governo, entre eles a desoneração da folha de pagamento para 15 setores.

Além da redução dos encargos trabalhistas, diz Câmara Negrão, o setor é beneficiado pelo aumento da confiança em decorrência dessas medidas, o que eleva a propensão dos empresários a contratar, na expectativa de aumento da produção no próximo ano. De acordo com o Boletim Focus do Banco Central, economistas de mercado projetam que a indústria crescerá 4,25% em 2013, ante retração de 2% esperada para o setor neste ano.

O economista do Bradesco projeta que o setor manufatureiro abrirá 59,7 mil postos de trabalho em setembro, número ainda inferior à geração de empregos com carteira assinada pelo setor observada no mesmo mês do ano passado (66,3 mil). "Os empresários começam a contratar neste mês para atender às encomendas de fim de ano, mas ainda é um resultado fraco. A perspectiva é que sejam mais fortes nos próximos meses."

A melhora do mercado de trabalho formal, principalmente na indústria, será mais perceptível no quarto trimestre, segundo Câmara Negrão, por causa da reação defasada do nível de emprego ao reaquecimento da atividade doméstica. O economista estima que essa defasagem é de três meses, por isso a abertura de 148 mil vagas projetada pelo Bradesco em setembro ainda será inferior ao observado em igual período de 2011.

Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria, também afirma que o emprego na indústria, por causa dos estímulos, mostrará dinâmica mais favorável nos próximos meses, principalmente no quarto trimestre. Em setembro, diz, o ritmo ainda foi modesto, o que ficou evidenciado pela queda de 0,28% do emprego na indústria paulista, na série livre de efeitos sazonais, segundo dados da Fiesp.

Em setembro, Bacciotti espera criação de 154 mil empregos com carteira. Na série com ajuste sazonal feito pela Tendências, e que torna os meses comparáveis entre si, a expectativa é de criação de 56 mil vagas em setembro, ante 51 mil no mês anterior. "É uma retomada bem gradual, porque ainda temos a perspectiva de acomodação do mercado de trabalho no comércio e nos serviços", diz Bacciotti.

José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, estima que o Caged mostrará saldo líquido positivo de 120 mil vagas de trabalho em setembro, piso das estimativas coletadas pelo Valor Data. Para Gonçalves, nos últimos três meses não houve melhora no cenário externo, o que abala a confiança dos empresários e limita a necessidade de contratação. Esse cenário é agravado, diz o economista, pela perspectiva de que, sem reação dos investimentos, a recuperação da economia brasileira no próximo ano não será tão forte quando se imaginava. Recentemente, o banco reduziu a estimativa de crescimento para o ano que vem, de 4% para 3,3%.

Para Gonçalves, a atividade doméstica dependerá dos gastos públicos e do consumo, que ainda será sustentado por uma massa salarial crescente, ainda que em velocidade menor.