Título: PDT desautoriza Paulinho da Força e anuncia apoio a Haddad
Autor: Taquari , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2012, Política, p. A6

O comando nacional do PDT anunciou ontem apoio ao candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad. A decisão contraria o diretório estadual, presidido pelo deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, que depois de ser derrotado no primeiro turno da disputa municipal aderiu à campanha de José Serra (PSDB).

O apoio da direção paulista ao tucano gerou mal-estar com o governo federal, pois o PDT comanda o Ministério do Trabalho.

Em nota, a direção nacional do PDT disse que apoiará Haddad porque o candidato representa "as principais bandeiras do trabalhismo". O anúncio de apoio está previsto para ocorrer nesta quarta-feira no Sindicato dos Eletricistas. O ato deve reunir o ministro do Trabalho, Brizola Neto, centrais sindicais e o candidato petista.

Paulinho, no entanto, disse que manterá o apoio à candidatura de Serra. "A decisão da Executiva Nacional não interfere em São Paulo. A Executiva decidiu liberar o diretório estadual", disse. Na semana passada, ao aderir ao tucano, Paulinho fez severas críticas ao PT e o governo Dilma Rousseff por não terem cumprido "compromissos firmados com os trabalhadores".

Em São Paulo, o PDT participa das gestões do governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), à frente da Secretaria Estadual de Emprego e Relações do Trabalho, e do prefeito da capital, Gilberto Kassab (PSD), com o cargo de subsecretário do Trabalho.

Ontem, em campanha pela capital, Haddad elevou ontem o tom das críticas a Serra ao dizer que o tucano tenta desinformar a população e estimula indiretamente a intolerância aos homossexuais ao trazer o kit anti-homofobia para o debate eleitoral. O material foi produzido pelo Ministério da Educação na gestão do petista e tinha como objetivo reduzir a discriminação aos gays nas escolas. Mesmo assim, foi alvo de críticas, sobretudo da comunidade evangélica. Diante da repercussão negativa, o Palácio do Planalto suspendeu a divulgação.

"O que Serra faz não se deve fazer em política. Quando você desinforma, você cria uma nuvem de insegurança nas pessoas que é própria de quem quer promover esse tipo de preconceito", disse Haddad. O kit gay voltou a ser o centro das atenções na eleição paulistana depois que foi revelado que o tucano elaborou material semelhante ao do MEC em 2009, quando governador do Estado. Com apoio da maior parte dos evangélicos no segundo turno, Serra vinha explorando o tema nos últimos dias na tentativa de desgastar o rival. "Foi a mesma ONG (organização não-governamental) que produziu o material. Então, dificilmente não há nenhuma semelhança [entre os dois] ", ressaltou Haddad.

Ao caminhar pelas ruas do comércio da Lapa, na zona oeste da capital, o petista também atacou o adversário por ter participado das privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e apoiado, como governador, a proposta de reservar leitos de hospitais estaduais a planos de saúde. "O Serra tem a privatização na veia. A privatização corre na veia do Serra. A Light foi ele que vendeu, a Vale do Rio Doce foi ele que vendeu, e ele quer vender agora 25% dos leitos do SUS". Segundo Haddad, a proposta pode provocar um colapso no município, uma vez que os leitos disponíveis são insuficientes para atender a demanda.

Na TV, o petista também intensificou os ataques ao PSDB na abertura e no encerramento da propaganda eleitoral. Pela manhã, as críticas iniciais ficaram por conta de atores contratados. "José Serra se elegeu prometendo uma saúde de qualidade para São Paulo, afinal, segundo suas próprias palavras, ele tinha sido o melhor ministro da Saúde do Brasil. Hoje, os paulistanos têm todos os motivos do mundo para desconfiar da competência e das promessas de Serra. Com ele e Kassab, a saúde pública de São Paulo virou um caos", diz a peça.

Ao final, a propaganda colocou o ex-presidente Luiz Inácio Lula de Silva para rebater o PSDB. "Haddad está sendo atacado com um monte de mentiras. Toda vez que os mais carentes escolhem um candidato, os tucanos agem assim. Eles acham que o povo é ingênuo. Mas o povo não é burro e já sabe em quem vai votar". À noite, o próprio Haddad apareceu no horário eleitoral gratuito para retrucar as críticas de Serra na área da educação. Mais uma vez acusou o rival de tentar desinformar a população ao colocar interesses partidários na frente de questões públicas.