Título: Moinho mineiro Vera Cruz muda de perfil e eleva participação no varejo
Autor: Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2006, Agronegócios, p. B12

A Moinhos Vera Cruz, uma das maiores moageiras de trigo de Minas Gerais, está mudando de perfil. A empresa, que desde o início das operações, em Juiz de Fora, em 1958, centrou a produção em farinhas industriais para fábricas de massas, biscoitos e pães, desde o início da década está cada vez mais voltada para o varejo. Lançou produtos, marcas e embalagens e abriu novos canais de distribuição.

Nessa estratégia, já se vale inclusive de forças de vendas especializadas. É o caso do time batizado de "as panteras", formado por engenheiras de alimentos que prestam informações técnicas aos clientes e ajudam o moinho a ganhar participação no mercado.

"Estamos nos reinventando a cada ano", diz Jacques Berliner, presidente da Moinhos Vera Cruz. O maior foco no consumidor levou a empresa a lançar pré-misturas para pães e misturas para bolos, também em versão light, apresentada ao mercado este mês. Berliner diz que é objetivo do moinho "dominar" o mercado de misturas light para bolos.

Por trás dessa agressiva postura comercial está uma sociedade anônima de capital fechado de porte médio na indústria moageira brasileira, com balanços auditados e diretoria profissional.

"Sou o único sócio da empresa que participa da direção", diz Berliner. A inclusão de produtos de maior valor agregado no portfólio da Vera Cruz deverá elevar o faturamento da empresa para R$ 70 milhões em 2006, 20% mais que no ano passado. Para 2007, Berliner prevê incrementar a receita em mais 20% e o volume de trigo processado em 15%. Neste ano a empresa deve moer de 80 mil a 100 mil toneladas de trigo em suas unidades de Juiz de Fora, onde tudo começou, e em Santa Luzia, na grande Belo Horizonte, equipada com tecnologia moderna e logística eficiente.

Situada em área verde sem problemas de poluição - o que segundo Berliner é importante porque o processo de moagem se vale da captação de ar no ambiente -, a unidade de Santa Luzia começou a operar em 1991, coincidindo com a abertura do setor tritícola no país. Em Santa Luzia, a Vera Cruz investiu em tecnologia e controla automaticamente a produção.

Em 1996, a empresa inaugurou na planta de Santa Luzia um novo laboratório de pesquisas e testes para a produção de farinha. A unidade de Juiz de Fora ficou concentrada na produção de farinha integral e passou a operar como centro de distribuição para a região da Zona da Mata mineira e para o Rio de Janeiro.

Na atual safra, a Vera Cruz deve comprar no mercado 80 mil toneladas de trigo, das quais até agora 6 mil toneladas foram adquiridas de produtores mineiros que cultivam trigo irrigado no Estado.

Na safra do ano passado, a empresa comprou, no total, 60 mil toneladas, sendo 10% de trigo mineiro. O produtor mineiro recebeu, em agosto, 5% a mais que o preço pago pelo produto argentino, de onde vem grande parte da demanda da Vera Cruz.

Berliner diz que o preço nominal do trigo argentino, posto na unidade de moagem de Santa Luzia, é de cerca de R$ 560 por tonelada, incluindo fretes e impostos. A Vera Cruz compra o trigo argentino por meio de traders. Berliner diz que há apreensão na indústria moageira, no momento, em virtude da resolução publicada pelo governo argentino este mês que isenta a produção de farinha destinada à exportação, em até 1,5 milhão de toneladas, do Imposto sobre Valor Agregado (IVA).

"O mercado está travado porque não se sabe como será a regulamentação desta medida", disse Berliner. Ele afirma que os moinhos, no Brasil, operam com ociosidade em função da concorrência imposta pela farinha argentina e pelos altos preços do trigo. Ele se diz otimista, porém, em relação às perspectivas de mercado para 2007, sobretudo em função das ações comerciais desenvolvidas pela Vera Cruz.

"Analisamos o lançamento de novas linhas de produtos e a compra de ativos", disse Berliner, sem entrar em detalhes. Uma medida que, segundo o executivo, contribuirá para a Vera Cruz e outros moinhos mineiros recuperarem mercado frente a empresas de outros Estados é a desoneração do ICMS sobre a farinha de trigo. A alíquota do imposto sobre o produto era de 7% em Minas e foi zerada. Berliner também considera que a médio prazo a Vera Cruz poderá seguir o caminho de empresas do setor como a M. Dias Branco e abrir o capital em bolsa. "Esta possibilidade pode chegar", reconheceu ele.