Título: Mudança no cálculo do PIB preocupa bancos e consultorias
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2007, Brasil, p. A3

O IBGE deve divulgar, dia 28 de fevereiro, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) de 2006 segundo a metodologia atual. Um mês depois, vai revelar os números de acordo com a nova sistemática que passa a adotar para cálculo das contas nacionais. "A nova série vai alterar todos os resultados do PIB de 1995 até 2006", informa Rebeca Palis, gerente de contas nacionais da instituição.

A mudança na metodologia de cálculo está preocupando bancos e consultorias, devido ao efeito que pode ter sobre as decisões do Banco Central com relação à trajetória da Selic. A autoridade monetária terá de reestimar todos os modelos que balizam as decisões sobre a taxa básica de juros.

Outro complicador é que no novo sistema, o PIB definitivo só será conhecido dois anos depois do ano de referência, o que pode aumentar a incerteza sobre os parâmetros que vão balizar as decisões de política monetária do Banco Central, provocando atitude de maior cautela da autoridade monetária em relação ao ritmo da queda do juro básico, prevê Bráulio Borges, economista da LCA Consultores.

Essa demora entre o número preliminar do PIB e o definitivo deve acontecer porque o novo sistema estatístico terá como base as pesquisas anuais de indústria, comércio e serviços do IBGE, em substituição ao Censo Econômico de 1985. A nova referência de cálculo vai permitir atualizar as ponderações das diversas atividades econômicas (agropecuária, indústria, serviços) sempre que se tiver uma nova pesquisa anual da indústria ou de serviços e ampliar o número de produtos da indústria e do setor de serviços.

As pesquisas anuais vão abrir mais fontes de informação ao IBGE para confrontar os dados da economia, incluindo aí o valor corrente das diversas atividades, diz Rebeca Palis. No sistema atual, o valor corrente de setores e produtos é calculado com base no volume e no preço do produtos (deflacionado). "Isso pode fazer a diferença, pois o valor do PIB é que dá o peso das atividades no próprio produto", destaca a gerente do IBGE.

Também serão disponibilizados para os técnicos das contas nacionais os números do Imposto de Renda das pessoas jurídicas, permitindo complementar informações sobre receita líquida e consumo das empresas. Os dados da Receita Federal terão importância redobrada para contabilizar juros, lucros, aluguéis e salários calculados no PIB sob a ótica da renda.

A mudança metodológica mais relevante divulgada até agora pelo IBGE é a que altera o cálculo da administração pública, que pesa expressivos 20% no produto. Pela sistemática atual, o IBGE considerava que a administração pública aumentava de acordo com o crescimento demográfico da população. Agora foi melhorada e a nova metodologia vai considerar outras variáveis como o total de pessoal ocupado no serviço público e o consumo de capital fixo (depreciação do estoque de capital da administração pública). A alteração pode tornar mais volátil o comportamento do consumo do governo no produto, prevêem economistas.

Nos próximos dois meses, o Banco Central, bancos e consultorias vão trabalhar refazendo seus modelos econométricos para projetar o PIB e também para calcular o produto potencial à luz das mudanças do IBGE.