Título: Retorno de Berzoini estimula Dirceu a voltar ao debate interno no PT
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2007, Política, p. A4

A volta do deputado Ricardo Berzoini à presidência do PT foi a deixa para o ex-presidente da sigla e deputado cassado José Dirceu reestrear no debate interno petista. Em seu blog, Dirceu divulgou ontem uma nota criticando as alas do partido que se opuseram ao retorno do dirigente.

"É inacreditável a capacidade de setores do PT de fazer luta interna - vale tudo, qualquer argumento, desde que favoreça sua corrente e sua representação no Diretório Nacional", escreveu Dirceu, afirmando que os críticos "fazem coro a certa mídia e se aproveitam do espaço generoso cedido por ela para fazer suas críticas. Quem perde é o próprio PT".

Dirceu já havia manifestado, há duas semanas, a intenção de voltar a participar da vida partidária, quando o PT oficializou a convocação de um Congresso Nacional em junho deste ano, que deverá encurtar o mandato da atual direção, previsto para se encerrar em setembro de 2008, em plena campanha para a eleição municipal. Há consenso sobre a antecipação da renovação e divergências sobre a data em que isso ocorrerá. O ex-dirigente ressalvou, contudo, que não participaria de chapas. No blog, definiu a volta de Berzoini como "natural" e "justa".

Entre os opositores públicos da volta de Berzoini, estão os dois principais candidatos derrotados pelo deputado na eleição interna da sigla em 2005: Raul Pont, da Democracia Socialista e Valter Pomar, da Articulação de Esquerda. Ambos temem que o retorno de Berzoini reduza o diálogo entre os setores majoritário e minoritários dentro da sigla.

Ricardo Berzoini retornou fortalecido o suficiente para arriscar uma mudança nos termos de convivência dentro do PT: além do apoio de Dirceu, teve suporte também de seu antecessor no cargo, o coordenador político do governo, ministro Tarso Genro, um antagonista do deputado cassado no debate interno do partido.

"Ele demonstrou, com a presença de Genro na sua volta, que está prestigiado no Planalto e legitimado pela maioria da Executiva", constatou Pont, deputado estadual gaúcho. Pont lembrou, entretanto, que o grupo de Berzoini é minoritário dentro do Diretório Nacional do partido, que se reúne no próximo mês em Salvador. "A avaliação crítica de tudo que ocorreu desde 2005 é um tema que poderá voltar à tona", disse Pont. A falta de espaço para divergências foi a principal crítica interna que Dirceu recebeu nos dez anos de hegemonia que teve no partido.

Anteontem, Pomar divulgou na página eletrônica do PT um artigo em que afirma que um dos vários motivos para se opor à reassunção de Berzoini, afastado desde o envolvimento do seu nome no escândalo da compra do dossiê contra o PSDB na campanha eleitoral, era o peso que o episódio poderia ter na disputa interna da sigla. "Há indivíduos que parecem querer instrumentalizar seu retorno à presidência, a favor de um grupo e não a favor do partido", escreveu Pomar, secretário de Relações Internacionais da sigla.

Ao Valor, Pomar negou que tenha se referido a José Dirceu. O dirigente terminou o artigo demonstrando preocupação com a volta de práticas usuais no partido até 2005. "Uma vez que Berzoini tomou a decisão de retornar à presidência, mesmo que de forma e em data que me parecem pouco adequadas, é fundamental que a direção nacional do partido siga funcionando coletivamente e atenta para o fato de que (...) é também transitória". Segundo Pomar, "Berzoini se elegeu no segundo turno com este compromisso e o adotou no início da gestão. É importante que ele retome esta prática".