Título: Bush propõe a democratas equilíbrio fiscal até 2012
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Fonte: Valor Econômico, 04/01/2007, Internacional, p. A7

O Partido Democrata, de oposição ao presidente George W. Bush, assume hoje o controle do Congresso americano com planos de levar adiante uma intensa agenda de mudanças logo nos primeiros dias de trabalho. Com minoria na Câmara e no Senado, o Bush adotou um tom conciliador e anunciou ontem uma proposta para equilibrar o Orçamento do governo até 2012 e pediu apoio da nova maioria democrata para aprová-la. A proposta, no entanto, recebe críticas da oposição.

Os democratas passam a ter uma maioria de 233 deputados contra 202 dos republicanos na Câmara, e é bem provável que a nova presidente da Casa, a democrata Nancy Pelosi, consiga aprovar um pacote de medidas que inclui aumento do salário mínimo, diminuição dos subsídios para companhias de petróleo e mudanças nas negociações de preços de medicamentos, o que pode afetar a faturamento das principais empresas farmacêuticas. No Senado, a vantagem é muito menor, apenas 51 a 49.

Mas, para alguns analistas, o novo Congresso terá meses ou no máximo um ano para costurar consensos em torno de projetos para votação. Depois disso, o clima de campanha das eleições presidencial e legislativas de 2008 deverá complicar as possibilidades de entendimento.

Ontem, Bush disse que apresentará ao Congresso - que pela primeira vez em seu governo não tem maioria republicana - um plano para equilibrar o Orçamento americano daqui a cinco anos, ou seja, três após o final de seu mandato.

Alcançar um equilíbrio fiscal nesse prazo exigiria uma substancial disciplina dos gastos públicos, já que projeções recentes da própria Casa Branca apontam para um déficit orçamentário de US$ 127 bilhões em 2011.

Economistas democratas reagiram de pronto à proposta e desafiaram Bush a especificar quais programas teriam seus recursos reduzidos. Para o diretor do Hamilton Project, Jason Furman, o projeto vai se basear em "cortes não especificados e improváveis de gastos futuros". Já Jim Horney, do Centro de Políticas Orçamentárias, alerta que o projeto poderá não incluir gastos eventuais com a "guerra ao terrorismo".

O projeto de déficit orçamentário zero incluiria em si outra medida: tornar permanente as reduções de impostos adotadas na gestão Bush. E isso também provoca desconfianças nos democratas.

"Damos boas-vindas ao novo compromisso do presidente de equilibrar o Orçamento, mas seus comentários nos deixam preocupados", disse o novo presidente da Comissão de Orçamento da Câmara, John Spratt. "Eles sugerem que seu Orçamento ainda incluirá as políticas que levaram ao maior déficit da história."

O debate ilustra a inversão de papéis que se deu na política americana nos últimos anos. Os democratas, normalmente vistos como gastadores, geraram no governo Bill Clinton um superávit fiscal. Já os republicanos, que costumavam ser guardiães da disciplina fiscal, produziram com Bush o maior déficit nominal da história dos EUA.

Outro tema que logo ganhará destaque na relação entre Congresso e governo é o financiamento militar. Em fevereiro, o Pentágono (Departamento de Defesa) deve pedir quase US$ 100 bilhões para as campanhas no Iraque, no Afeganistão e operações contra o terrorismo (além dos US$ 70 bilhões já aprovados em setembro). Os democratas disseram que não devem segurar gastos militares, mas exigirão uma mudança de rumo na política americana para o Iraque. O presidente Bush deve anunciar nos próximos dias uma revisão na estratégia de ocupação do país, que ele pretende seja "uma oportunidade de construir consenso bipartidário para lutar e vencer a guerra".