Título: Espanha e EUA levam ânimo aos investidores com dados e rumores
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Fonte: Valor Econômico, 17/10/2012, Finanças, p. C2

Indicadores econômicos e balanços corporativos melhores que o esperado nos EUA e a renovada expectativa em torno de um pedido de socorro financeiro pela Espanha deram ânimo aos mercados internacionais ontem.

Nos EUA, o otimismo veio com os dados da produção industrial do país, que cresceu 0,4% em setembro na comparação com agosto, acima da previsão de alta de 0,2%. Esse sinal econômico positivo ajudou a levar o índice Dow Jones a subir 0,95%, aos 13.551,78 pontos. O S&P-500 avançou 1,03%, para 1.454,92 pontos, enquanto o Nasdaq Composite subiu 1,21%.

Com os investidores apostando que a Espanha está cada vez mais próxima de formalizar um pedido de socorro internacional, o país encontrou um clima mais favorável no mercado. A Espanha aproveitou para leiloar títulos com vencimento de 12 e 18 meses pagando taxas menores. E a bolsa de Madri registrou expressiva valorização de 3,41%.

O Tesouro da Espanha levantou com o leilão € 4,86 bilhões. A demanda pelos papéis surpreendeu, chegando a superar os € 13 bilhões. Essa foi a primeira oferta feita pelo país após a agência Standard & Poor"s rebaixar sua nota de risco de crédito. Nos papéis com prazo de 12 meses, a taxa paga ficou em 2,860%, abaixo dos 2,978% registrados em oferta anterior. Nos títulos com resgate em 18 meses, a taxa ficou em 3,070%, contra 3,150% do último leilão.

Um oficial do ministério das Finanças da Espanha, segundo reportagem do "The Wall Street Journal", disse que o país estava procurando apoio dos parceiros da zona do euro para dar prosseguimento ao um pedido de resgate, mas que havia receio de que investidores ficassem nervosos e voltassem atenções para a Itália, que também vem enfrentando problemas.

No entanto, após a agitação que tomou conta do mercado europeu, o primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, em conversa por telefone com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, negou os rumores de que o país considera pedir em breve uma linha de crédito do fundo de resgate da União Europeia, o Mecanismo de Estabilidade Europeu (ESM, na sigla em inglês). A informação foi divulgada por uma pessoa ligada ao assunto que preferiu não se identificar. Segundo a fonte, durante reunião com autoridades do governo, Merkel deu detalhes sobre a conversa com Rajoy e disse que o primeiro-ministro espanhol havia pedido a ela que "não acreditasse em tudo que ouve" e que entrasse em contato direto com ele se tivesse qualquer dúvida sobre as intenções da Espanha.

Muitos analistas acreditam que a formalização de um pedido por parte de Madri serviria apenas para impulsionar o euro, uma vez que ajudaria a conter a crise do bloco e prevenir desdobramentos piores para a região.

"Há algum tempo, acreditamos que, apesar de oficiais espanhóis negarem, um resgate é inevitável e existe uma possibilidade maior de isso acontecer depois das eleições regionais de 21 de outubro", disse Kathy Lien, diretora-geral da BK Asset Management.

"A razão pela qual o governo espanhol gosta da ideia da linha de crédito é porque evita o estigma de um resgate total", completou. Outros acreditam que a demora da Espanha em agir pode diminuir o potencial impacto do programa de compra de ativos pelo Banco Central Europeu (BCE).

"Quanto mais a Espanha joga com o mercado, menores as chances de uma retomada do euro pós-plano", disse Jeremy Stretch, estrategista da CIBC.

Ontem a Standard & Poor"s rebaixou o rating de diversos bancos espanhóis, na esteira do corte da nota soberana anunciado na semana passada. O rebaixamento da nota de longo prazo atinge 11 bancos e o da de curto prazo abrange quatro instituições.

Entre os bancos que tiveram nota rebaixada estão BBVA (para "BBB-"), Bankia (para "BB"), Banco Popular (para "BB") e Santander (para "BBB"). Os ratings do Santander no Brasil, México e Chile não foram alterados.

Já a Moody"s informou a manutenção do rating soberano Baa3 da Espanha, dizendo que o risco de o país perder acesso aos mercados para financiamento da dívida foi bastante reduzido.

Todavia, mesmo com o rebaixamento, as ações do setor bancário espanhol se destacaram com altas no pregão. As ações do BBVA subiram 5,98%, seguidas por Santander (4,32%) e Caixabank (2,13%).

Em Londres, o FTSE 100 fechou em alta de 1,12%. Os bancos também foram destaque. Os papéis do Lloyds avançaram 6,1%, e os do Barclays, 4,4%. O CAC 40, de Paris, ganhou 2,36%. O DAX, de Frankfurt, subiu 1,58%. Em Milão, o FTSE MIB ganhou 2,53%.