Título: Autonomia do Banco Central preservada
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 25/11/2010, Política, p. 4

Ao novo titular do cargo, a presidente eleita garantiu que a autoridade monetária continuará livre para definir metas de inflação e taxa de juros

A presidente eleita, Dilma Rousseff, garantiu que o Banco Central terá total autonomia operacional. O recado, direcionado ao mercado financeiro, que flertava com especulações sobre o caráter da autoridade monetária a partir de 1º de janeiro, foi dado pelo economista e servidor de carreira do BC Alexandre Tombini, indicado para ocupar a Presidência da instituição.

Tombini, que precisa ser sabatinado pelo Senado para ser confirmado no cargo, disse que não haverá interferência na condução da política implementada pelo BC. ¿Tive longas conversas com a presidente eleita no processo de escolha e ela me disse que, no regime de metas de inflação, não há meia autonomia, é autonomia total¿, afirmou o economista, que hoje ocupa a diretoria de Normas.

Outra meta apresentada por Dilma a Tombini é manter o protagonismo do Brasil nas discussões sobre regulação do sistema financeiro internacional dentro do Banco de Compensações Internacional (BIS, na sigla em inglês). ¿O Banco Central precisa continuar contribuindo com o protagonismo que o Brasil assume há algum tempo¿, emendou.

Tombini ajudou a implementar, em 1999, o regime de metas de inflação, ao lado do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga. Segundo ele, o objetivo é alcançar inflação de 4,5% no ano que vem, que é a meta consolidada no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O regime de meta tem uma tolerância de 2 pontos para cima ou para baixo.

Recado A ênfase na autonomia da autoridade monetária foi necessária depois de Henrique Meirelles, o atual mandatário da instituição, ter mandado recado cifrado à presidente eleita. Aos ouvidos de Dilma, Meirelles tentou impor condição de que só ficaria no cargo se tivesse autonomia de gestão.

A presidente eleita ficou irritada por, segundo assessores, jamais ter colocado em questão a blindagem do BC contra interferência política. Na avaliação de pessoas próximas a Dilma, Meirelles tentou blefar e não conseguiu levar o cargo.

Acabou sobrando para Tombini, o nome preferido do ministro da Fazenda, Guido Mantega, para ocupar a cadeira máxima da autoridade monetária. No breve pronunciamento que fez ontem durante a oficialização de seu nome, Tombini ressaltou o bom trânsito com Mantega. ¿Existe um entrosamento muito bom, produtivo, que produz resultados importantes. Nos cinco anos que estive no BC com o ministro Mantega, fizemos coisas importantes na agenda de tornar o país uma economia forte e segura¿, afirmou.

Tombini aproveitou para agradecer Meirelles. O atual presidente do BC emitiu uma nota classificando de excelente a escolha de Dilma. ¿É um profissional completamente preparado para a função. Trabalhamos juntos por cinco anos e tenho plena confiança nele¿, consta do texto assinado por Meirelles. A Associação de Servidores do Banco Central divulgou comunicado em defesa da autonomia da instituição.

Preterido, Meirelles se diz ¿gratificado¿ Vânia Cristino

O todo-poderoso presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, vai começar do zero em termos políticos. Para a carreira que sempre almejou, de nada adiantou permanecer oito anos no comando do BC e de lá sair com o reconhecimento nacional e internacional e inúmeras manifestações de apreço. Nesse tempo todo, Meirelles não conseguiu ver seu projeto pessoal decolar.

¿Estou feliz, gratificado¿, disse Meirelles, que escolheu como palco para a despedida pública do cargo ¿ que efetivamente só ocorrerá em 31 de dezembro ¿ o plenário da Comissão de Assuntos Econômicos (Cae) do Senado Federal. Oficialmente, o presidente do BC cumpriu, ontem, o último compromisso no Congresso, ao comparecer na companhia da presidente da Caixa Econômica Federal, Maria Fernanda Ramos Coelho, para dar explicações sobre as ações do governo em relação ao Banco Panamericano, controlado pelo grupo Silvio Santos.

Depois de listar o que classificou de ¿uma história de sucesso¿, Meirelles disse que sua intenção e seu objetivo sempre foram concluir seu trabalho com o presidente Lula. ¿Regras de boas práticas de bancos centrais de todo o mundo aconselham que um presidente de Banco Central não fique mais do que dois mandatos¿, assegurou, acrescentando que esse é o ¿momento adequado para encerrar a missão¿.

Meirelles admitiu que sua carreira política foi meteórica. Eleito deputado federal pelo PSDB de Goiás, em 2002, nem chegou a tomar posse. Desistiu do mandato para assumir a Presidência do Banco Central. Nas vezes em que pensou mudar de rumo ¿ 2005 e 2010 ¿ acabou decidindo por permanecer no cargo.

¿Tomei uma decisão consciente. Não reiniciei minha curta carreira política porque queria concluir minha missão¿, ponderou. De acordo com Meirelles, os fatos que se desenrolaram a partir de então mostraram que ele estava certo. Ele lembrou que, mesmo no início deste ano, a situação econômica mundial estava longe de poder ser classificada como ¿um céu de brigadeiro¿. Houve um refluxo da situação mundial com a crise de solvência em vários países europeus e, mais recentemente, a questão do mercado financeiro, observou.

Meirelles disse com todas as letras que não pensa em aposentadoria e que tem um bom tempo à frente para pensar no futuro. ¿Meu pai parou de trabalhar aos 92 anos. Seis meses depois ele chegou à conclusão de que a aposentadoria tinha sido precipitada¿, contou.