Título: Serra joga com desinformação, diz Haddad
Autor: Cunto , Raphael Di
Fonte: Valor Econômico, 16/10/2012, Política, p. A10

Material de combate ao preconceito sexual distribuído nas escolas públicas virou tema central na eleição para a Prefeitura de São Paulo, depois de revelado ontem que o ex-governador José Serra (PSDB), que se aliou a evangélicos para criticar o kit feito pelo adversário, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT), também produziu livro com instruções para lidar com a discriminação.

Serra, mostrou ontem o jornal "Folha de S. Paulo", produziu em 2009 material semelhante ao feito pelo MEC. O livro, com 101 páginas, explica como lidar com diferentes formas de preconceito, inclusive sexual, e orienta o professor a mostrar desenhos de "dois garotos de mãos dadas", de "dois homens se abraçando quando um deles faz um gol" e de "duas garotas se beijando na boca" e questionar qual a sensação do aluno ao ver as imagens.

"Explique que, em nossa sociedade, tudo o que foge a certo padrão de masculinidade e de feminilidade é, muitas vezes, visto com estranhamento. É desse estranhamento que surgem os preconceitos e, consequentemente, a discriminação", orienta o livro.

O material do MEC era um conjunto de vídeos que mostrava história de três homossexuais vítimas de preconceito. Os vídeos provocaram revolta na bancada evangélica do Congresso, que ameaçou derrotar o governo em votações importantes e conseguiu que o material não fosse distribuído nas escolas.

O tema voltou à pauta com Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, que disse que "arrebentaria" Haddad por causa do "kit-gay". O petista evitou polemizar com o pastor, que em 2010 já tinha atacado o posicionamento da presidente Dilma Rousseff, então adversária de Serra na eleição presidencial, em relação ao aborto, e atacou o tucano. "Já tinham me alertado que ele [Serra] tentaria reproduzir a estratégia de ofensas e mentiras de 2010", afirmou.

Haddad repetiu por cinco vezes que o tucano "mente". "Ele [Serra] sempre joga com a desinformação", afirmou o petista, que deu como exemplos desta postura o ex-governador não mencionar que o kit anti-homofobia do MEC foi solicitado por emenda ao orçamento feita pelo Congresso e que a decisão de suspender o material foi tomada "em comum acordo" entre Haddad e a presidente Dilma.

O ex-ministro citou ainda a posição da Secretaria Estadual de Educação, que negou anteontem que tivesse produzido material semelhante ao kit anti-homofobia do MEC, mas recuou e admitiu a existência do livro. Segundo a pasta, o material foi distribuído para os professores, que mostrariam aos alunos apenas se julgassem conveniente.

Serra criticou a reportagem que revelou a existência do material do governo de São Paulo e disse que a notícia "tem o dedo do Zé Dirceu", ex-presidente do PT condenado no processo do mensalão. Para o tucano, o kit do governo paulista "não tem nada a ver com o desastrado "kit gay" do Fernando Haddad, que custou R$ 800 mil, a Dilma vetou e está aí sem nenhum efeito".

"O nosso material é correto. Não é só voltado à questão de natureza sexual, mas também a preconceito de classe e religião. É voltado ao fortalecimento da família, tanto que na época ninguém reclamou", disse Serra. Malafaia gravou vídeo em defesa do tucano, em que diz que o kit de Serra tem o "conceito errado", mas defende "os valores da família". "O kit gay do Haddad, primeiro, é para ser distribuído para crianças. Segundo, faz apologia ao homossexualismo. Não defende família, não defende nada em relação a bullying, mas, doutrinariamente, defende o homossexualismo", disse. (Com agências noticiosas)