Título: Programa de Serra reforça parceria com governo estadual
Autor: Lima , Vandson
Fonte: Valor Econômico, 16/10/2012, Política, p. A11

Lançado 13 dias antes da votação que decidirá o próximo prefeito de São Paulo, o programa de governo do candidato José Serra (PSDB) investiu fortemente no discurso de alinhamento com o governo estadual, defesa da gestão do atual prefeito Gilberto Kassab (PSD) e apresenta uma miríade de ideias sem, no entanto, fixar metas para a maioria das propostas, bem como fazer qualquer previsão dos gastos que serão necessários para a implantação das medidas.

Segundo o coordenador da peça, Hubert Alqueres, "é um documento acessível, para as pessoas saberem do que estamos falando. Não tem propostas "publicitárias", com nomes vistosos, mas ocas ou inexequíveis". Tanto cuidado limou do texto final até mesmo números apresentados pelo próprio candidato tucano. Ao longo da campanha e em propagandas de rádio e TV, Serra falou com frequência, por exemplo, na reurbanização de 200 favelas da cidade. O número desapareceu no programa definitivo.

Alqueres garantiu no evento de lançamento do programa, feito em uma sala de cinema na região central da cidade, que foram feitos estudos junto ao orçamento municipal para ver se os planos "cabiam, se eram viáveis financeiramente". Integrantes do alto escalão da prefeitura paulistana, como o secretário de Finanças Mauro Ricardo, participaram de sua confecção. Apesar disso, não há referência ao aporte financeiro necessário para o cumprimento das propostas apresentadas no documento.

O programa é dividido em 15 temas, distribuídos em 57 páginas e recebeu sugestões de aproximadamente 2 mil pessoas, segundo a coordenação de campanha de Serra. A alusão a parcerias com o governo do Estado aparece nada menos que 22 vezes ao longo do texto, enquanto o governo federal só é colocado como possível aliado no trabalho duas vezes.

Enquanto algumas áreas apresentam metas efetivas para um possível governo do tucano, caso da saúde - incorporação de quatro hospitais à rede municipal (em Cidade Dutra, Carrão, Lapa e Freguesia do Ó), criação de 20 novas unidades de Atendimento Médico Ambulatorial (AMAs) - outras aparecem de forma genérica. Sobressai o exemplo da educação, que elenca propostas vagas como "ampliar as vagas em creches" ou "criar creches nas estações de Metrô e da CPTM". Não há nenhuma meta que se possa cobrar do candidato depois.

Outra proposta, "instituir auxílio para mães carentes que aguardam vagas nas creches mantidas pela prefeitura" não vislumbra o tamanho desse contingente ou qual seria o valor do auxílio oferecido. O candidato a vice de Serra, Alexandre Schneider, foi secretário de Educação na gestão Serra.

Tema muito debatido na campanha, a mobilidade urbana também ficou sem algumas respostas necessárias no programa do tucano. A expansão da rede de corredores de ônibus da cidade é citada, mas sem uma promessa de quantos quilômetros serão feitos. A expansão da rede metroviária fixa uma meta de atingir 120 km até 2016, em parceria com o supracitado governo estadual.

Projeto citado por praticamente todos os postulantes à sucessão paulistana no primeiro turno, o estímulo à descentralização, com incentivos para que empresas se instalem ou ampliem seus empreendimentos em áreas periféricas da cidade é apenas citado no programa de Serra, sem detalhamento.

Denominada "zeladoria urbana e serviços", o cuidado cotidiano com o espaço público recebeu metas mais pontuais no programa tucano, que se compromete a recapear mil quilômetros de ruas e avenidas até 2016, bem como implantar 5 mil novos pontos de iluminação pública, além de utilizar um novo padrão de iluminação, com tecnologia de lâmpadas de LED, em parques e túneis. Dez novos mercados e sacolões municipais estão prometidos e a meta é ampliar a coleta seletiva de resíduos para 10% do total.

"O programa aqui apresentado é um guia de ação, um roteiro de trabalho", avaliou o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB). O senador foi responsável pelo ataque mais duro da noite ao concorrente Fernando Haddad (PT). "O programa de governo dele é uma antologia de bobagens. Seria melhor que ele contratasse aquele laranja do Celso Russomanno pra fazer. Talvez ficasse mais legível", disse, em referência a um funcionário da prefeitura que usava um nome falso para trabalhar no programa de governo do candidato do PRB, que não chegou ao segundo turno.

Serra fez críticas ao programa do concorrente, a quem taxou de despreparado para comandar a cidade. "Não é algo a ponto de a gente detalhar os locais das 30 AMAs [atendimento médico ambulatorial] que serão feitas, mas temos o compromisso de fazer, está no programa", afirmou Serra. "No programa do nosso adversário, as AMAs nem são citadas. Eu queria pelo menos saber o que ele vai fazer com ela, se vai fechar ou algo do tipo", provocou".