Título: Embarque de tratores concentra-se no Mercosul, EUA e na África do Sul
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2007, Agronegócios, p. B10

A política de reajuste de preços, associada à valorização do real em relação ao dólar, reduziu a competitividade das indústrias de máquinas agrícolas instaladas no Brasil e alterou o perfil dos importadores em 2006. Muitos países que nos três anos anteriores elevaram as compras e ganharam participação significativa na balança de exportações reduziram as encomendas no ano passado, provocando uma queda de 28% no total das exportações, estimadas em 22 mil unidades pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Persio Luiz Pastre, vice-presidente da Anfavea, observa que boa parte das vendas externas é feita com base em processos de licitação, promovidos por governos e grupos privados. "As fábricas do Brasil concorrem com plantas das mesmas empresas em outras partes do mundo. O país aumentou de forma extraordinária as exportações nos últimos anos, mas ainda representa 5% do mercado mundial. Ainda somos pequenos", afirma.

No segmento de tratores, alguns dos países que em 2005 figuraram na lista dos dez maiores importadores, no ano passado saíram desse ranking. O México, que em todo o 2005 importou 666 tratores, nos 11 primeiros meses do ano passado reduziram as compras para 291. A Venezuela, que há dois anos comprou do Brasil 3.246 unidades, importou até novembro do ano passado 1.510 unidades, baixando sua participação sobre o total de embarques brasileiros de 25,4% para 17,5%. O Chile foi outro país que reduziu pela metade as compras, saindo de 1.210 unidades no ano de 2005 para 640 nos 11 meses do ano passado. A Tailândia também reduziu as compras de 895 para 266 unidades, seguindo o mesmo intervalo de comparação.

Em relação à demanda, é fato que o mercado mundial de máquinas agrícolas encolheu como um todo em 2006, em consequência do reajuste nos preços desses implementos, dos baixos preços dos grãos praticados no mercado internacional durante boa parte do ano e das quebras de safra que afetaram principalmente os mercados das Américas, Ásia e Austrália.

Já em relação à oferta, Pastre observa que, além do fator cambial, pesou negativamente sobre as empresas o aumento do custo unitário das máquinas, devido à da escala de produção. "Em 2006 a produção total ficou em torno de 45,5 mil unidades, quando temos um parque industrial com capacidade que beira 90 mil máquinas por ano. As indústrias estão com uma ociosidade fantástica e que pesa nos custos", observa Pastre.

De acordo com os dados preliminares da Anfavea, as exportações voltaram a se concentrar nos países do Mercosul, nos Estados Unidos e na África do Sul. Entre eles, o único que elevou as importações no período foi a África do Sul. Nos 11 primeiros meses de 2006, o país comprou do Brasil 1.095 tratores, contra 1.043 no ano fechado de 2005. A sua participação ficou em 12,7%, contra 8,2% no ano anterior. Os Estados Unidos reduziram as compras em 66% nos 11 meses em 2006, para 1.473 unidades. Com isso, a participação recuou de 33,5% para 17,1%.

A Argentina, embora tenha reduzido em 1,4 mil unidades as suas importações até novembro (para 4.052), permaneceu como principal mercado comprador. O país foi o destino de 47% das exportações brasileiras no ano passado. Em 2005, esse índice era de 41%. Uruguai e Paraguai também reduziram as importações, mas mantiveram sua participação em 4,2% e 4,9%, respectivamente.

A Anfavea divulga na sexta-feira o balanço fechado de 2006 e as perspectivas para o ano. De acordo com Pastre, as exportações serão no máximo iguais às deste ano. Até novembro, o país exportou 20.478 unidades mas a previsão era encerrar o ano com 22 mil unidades. Em receita, a Anfavea estima que as vendas externas ficarão pouco superiores ao resultado de 2005, quando o faturamento alcançou R$ 2,027 bilhões. Neste ano, a receita também tende a se repetir.