Título: Balanços mais robustos à vista
Autor: Viri , Natalia
Fonte: Valor Econômico, 16/10/2012, Empresas, p. B1

Depois de uma temporada de balanços fracos no segundo trimestre, há uma maior otimismo entre analistas para os resultados do período de julho a setembro, que devem trazer os primeiros sinais de recuperação.

Estimativas de analistas compiladas pela agência Bloomberg apontam que as 63 empresas que compõem o Índice Bovespa devem registrar lucro de R$ 37,8 bilhões no terceiro trimestre, alta de 79% em relação ao período anterior.

A retomada da economia doméstica e os incentivos do governo estão por trás do otimismo, ainda que a maior parte da recuperação deva aparecer mais no fim do ano.

"O segundo trimestre foi o pior momento da economia no ano e agora já vemos sinais de melhora, mesmo que ainda não sejam tão fortes para superar os resultados registrados há um ano", avalia o analista Felipe Rocha, da Omar Camargo Corretora.

Além disso, o impacto da valorização do dólar, que castigou as empresas com dívidas em moeda estrangeira no segundo trimestre, não vai se repetir.

Após uma alta de 11% entre março e junho, o dólar encerrou setembro com variação de 0,46% em relação a três meses antes, em R$ 2,03. O efeito cambial deve ter impacto positivo também na comparação anual. No terceiro trimestre de 2011, a moeda americana valorizou-se 20%, para R$ 1,88, pesando sobre o resultado financeiro - o saldo das dívidas é ajustado no balanço de acordo com a cotação do último dia útil de cada período.

A expectativa é que os setores voltados ao mercado interno sejam os primeiros a captar a retomada. "As varejistas de alimentos devem continuar a se destacar, acompanhando o baixo nível de desemprego e a renda em patamares elevados", destaca Sandra Peres, analista da Coinvalores.

O setor de educação, que, contrariando a tendência geral, apresentou bons números no segundo trimestre, também deve seguir com força. Sandra explica que o terceiro trimestre costuma ser mais forte, por causa dos vestibulares do meio de ano. "Mas o número de matrículas cresceu até mesmo em relação ao terceiro trimestre de 2011", ressalta.

Já o desempenho de setores ligados à atividade industrial ainda deve vir morno, por conta da concorrência com importados e do elevado nível de estoques. "Apesar da redução de IPI para automóveis, o setor de autopeças não deve vir muito melhor, porque a medida serviu para queimar estoques", afirma Rocha, da Omar Camargo.

A expectativa para os números da Petrobras, por sua vez, é um pouco mais otimista. No começo do mês, a presidente da estatal, Graça Foster, já garantiu que o prejuízo do segundo trimestre "não ocorrerá novamente com a mesma magnitude". Entre abril e junho, a companhia apresentou um resultado negativo em R$ 1,3 bilhão, por conta, principalmente do impacto do câmbio sobre a dívida.

Segundo Mitsuko Kaduoka, diretora de análise de investimento da BI&P Corretora, o resultado operacional deve vir um pouco melhor por causa do reajuste de 7,8% nos preços da gasolina e de 10% do diesel, anunciados entre junho e julho.

"Mas isso não deve ser suficiente para cobrir toda a defasagem em relação ao preço internacional", alerta a analista, para quem a estatal conseguirá emplacar um novo reajuste até o fim do ano.

Já para os setores voltados ao mercado externo, a expectativa é de uma retomada mais lenta. É o caso das fabricantes de papel e celulose, afirma William Alves, da XP Investimentos. "Houve uma melhora nos volumes de exportação e os preços subiram, mas nada muito substancial", afirma o analista.

Mitsuko, da BI&P, lembra que, apesar de o dólar mais valorizado dar impulso às receitas, a demanda fraca ainda deve segurar os resultados das exportadoras. "Em relação ao ano passado, o patamar de lucros ainda deve ser baixo."

No caso da Vale, a queda de mais de 30% nos preços do minério de ferro, associada ao aumento de provisões para processos tributários, pode levar a companhia para o pior resultado em dois anos. A Santander Corretora estima um lucro 25% menor no período em relação ao aos três meses anteriores, para US$ 2 bilhões. Os analistas do banco Barclays esperam uma queda ainda maior, de 44%, para US$ 1,5 bilhão.

A queda do minério deve derrubar também os resultados da CSN. As vendas do insumo representaram metade do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da siderúrgica no segundo trimestre.

Em relação aos produtos siderúrgicos, a expectativa é alguma recuperação nas vendas da CSN e da Usiminas, que atuam no segmento de aços planos, voltado para a produção de eletrodomésticos e automóveis, segmentos que receberam incentivos do governo. Mas, segundo Mitsuko, da BI&P, a recuperação ainda deve ser tímida, já que a concorrência com importados continua forte.

Do lado negativo, a diretora da BI&P destaca ainda o desempenho dos bancos, cujos lucros devem minguar com os cortes nos juros e o nível de inadimplência ainda elevado. Outro setor que deve apresentar margens mais apertadas, de acordo com a analista, é o de frigoríficos, por conta da pressão dos preços dos grãos sobre os custos. (Colaborou Vera Saavedra Durão, do Rio)