Título: Cresce a sindicalização em reais
Autor: Bautzer, Tatiana
Fonte: Valor Econômico, 22/01/2007, Finanças, p. C1

O mercado de empréstimos sindicalizados em reais está crescendo, principalmente para financiamento de projetos. Por enquanto, a maior parte das operações é repasse de recursos do BNDES, em sistema de "club deal", sem distribuição formal.

Modalidade praticamente inexistente há algum tempo, a sindicalização em reais já representa um volume significativo. Há poucas estatísticas sobre o assunto, porque não há registros públicos dos negócios, protegidos por sigilo bancário.

Mas o uso de mercado de capitais principalmente por questões fiscais e dados de algumas instituições mostram que o volume envolvido é grande. Quase todas as operações são feitas para "corporates", grandes empresas que já têm acesso ao mercado internacional.

A receita do crédito é distribuída de acordo com a participação de cada banco, e o líder recebe taxas pela distribuição. Os instrumentos mais usados para formalizar os empréstimos sindicalizados são cédulas de crédito bancário (CCB) e notas ou cédulas de crédito à exportação (NCE e CCE). No mercado de capitais, são comuns debêntures e notas promissórias.

Um dos líderes no nascente mercado de sindicalização em reais, o Itaú BBA tem uma carteira de R$ 12 bilhões em operações em processo de sindicalização para empresas brasileiras- a instituição deve ficar com 25% deste valor, cerca de R$ 3 bilhões, e distribuir o restante. São 25 créditos com valor individual entre R$ 150 milhões e R$ 2 bilhões. O diretor de instituições financeiras do banco, Odair Dias da Silva Júnior, diz que mais de 70% das operações são repasses de financiamento de projetos com recursos do BNDES, e o restante linhas de capital de giro de longo prazo.

O prazo mais curto é de um ano e o mais longo, 17 anos. "Muitas vezes o cliente tem interesse em utilizar vários bancos com os quais tem relacionamento. Em outros casos o banco quer distribuir a operação porque não tem apetite para ficar sozinho com o risco", explica Silva Júnior. O executivo não diz os nomes das empresas.

O sindicato funciona quase como um comitê de credores. A empresa trata dos detalhes com o líder e não com todos envolvidos na operação. "Para a empresa acaba sendo mais fácil, ela reduz o número de contatos com os bancos, inclusive com o BNDES", diz o executivo. A carteira que os bancos nacionais chamam de sindicalizada é bem maior que a dos estrangeiros, que não têm o mesmo acesso a recursos do BNDES. Um dos estrangeiros atuantes no mercado tem R$ 600 milhões em negociação.

Nos tickets mais altos, é comum incluir condições que devem ser cumpridas pela empresa para que o crédito não tenha vencimento antecipado. No jargão internacional, essas condições são chamadas "covenants". Podem ser, por exemplo, um limite máximo de endividamento da empresa, ou restrições a retiradas extraordinárias de dividendos - os participantes entram em acordo sobre estes critérios. Por enquanto, os empréstimos sindicalizados estão restritos a riscos "corporate". Empresas médias costumam ter operações de valores que dificilmente estouram os limites de crédito de uma instituição. Além do Itaú, também estão sindicalizando créditos Bradesco, Unibanco, Votorantim, ABN AMRO, Santander e BNP Paribas.

Ainda há dúvidas sobre que tipo de operação deve ser considerada como um empréstimo sindicalizado no nascente mercado brasileiro. "No exterior, é considerado sindicalizado o empréstimo que tem um líder que recebe um mandato expresso para a distribuição e toma o risco de crédito", explica Ernesto Meyer, coordenador de financiamentos para aquisição e operações sindicalizadas para a América Latina do BNP Paribas. Não são considerados sindicalizados empréstimos com apenas dois bancos - é necessária a existência de um líder e pelo menos outras duas instituições.

No caso de recursos do BNDES, há restrições para repasses por bancos estrangeiros sem rede de agências. O potencial de crescimento nos repasses é grande: o BNDES prevê conceder crédito de R$ 68 bilhões nos próximos três anos. O BNDES estabelece os limites de repasse para cada banco, o que não ocorre em organizações multilaterais como a International Finance Corporation (IFC) ou o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Entre as operações sindicalizadas já conhecidas, estão R$ 1 bilhão em debêntures da Light e créditos para a Hertz (R$ 114 milhões), Eletropaulo (R$ 300 milhões) e Grupo Farias (R$ 100 milhões) e Ventos do Sul (R$ 360 milhões do BNDES).