Título: Seca pode reduzir descontos na conta de luz
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2012, Brasil, p. A4

A falta de chuvas neste ano promete encolher o desconto nas contas de luz em 2013. No mês passado, o governo anunciou um plano de revisão tarifária, que prevê a redução média de 16,2% nas contas residenciais e de até 28% para as empresas, graças a um corte de encargos e à renovação de concessões no setor. Mas, com a seca, o impacto no bolso dos consumidores e no caixa das companhias pode ser menor que o esperado.

Nos últimos três meses, o nível dos reservatórios baixou muito, fazendo disparar o preço da energia no mercado livre, o que levou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a acionar as termelétricas. Como o custo de operação dessas usinas é mais alto que o das hidrelétricas, as distribuidoras deverão repassar, no ano que vem, esse aumento aos consumidores.

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, diz que esse reajuste dependerá da intensidade do uso das termelétricas. Ontem, o governo acionou, pela primeira vez no ano, usinas movidas a óleo, para poupar os reservatórios do Nordeste. Até então, as térmicas em atividade eram somente a gás, que têm custo de operação mais baixo.

Cálculos da consultoria PSR mostram que, de janeiro a julho, foram gastos R$ 118 milhões na ativação de térmicas, valor bem superior aos R$ 6,1 milhões empregados em todo o ano passado.

O uso das termelétricas neste ano, afirma Cristopher Vlavianos, presidente da comercializadora de energia Comerc, pode elevar entre 3% e 4% o valor das contas de luz em 2013. "Ao ativar termelétricas que ainda não precisariam estar em operação, o ONS indica que considera razoável o risco de as chuvas nos próximos meses não serem suficientes para normalizar o nível dos reservatórios", afirma Andrew Frank Storfer, sócio da consultoria Interacta.

À medida que o volume de água diminui, os preços divulgados pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) disparam. Na região Sudeste-Centro-Oeste, o valor médio do MWh, denominado Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), subiu de R$ 183 em setembro para R$ 322 nesta semana - um salto de 76%.

Outros fatores também podem pesar no reajuste da luz em 2013. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve de referência para o reajuste dos contratos de energia, segue pressionado. O câmbio, que baliza os contratos de energia de Itaipu, também não deve ajudar. Neste ano, o dólar acumula alta de quase 10% e mantém-se em patamar próximo a R$ 2.