Título: Sem chuvas, ONS liga térmicas a óleo
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2012, Brasil, p. A4

O volume dos reservatórios na região Nordeste se aproxima dos níveis mínimos de segurança e fez o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) acionar, em caráter emergencial, um conjunto de usinas térmicas movidas a óleo. Elas foram ligadas ontem para gerar 2,1 mil megawatts (MW) médios e economizar água das hidrelétricas. A medida foi tomada por causa do atraso na chegada do período de chuvas.

Como ocorre quase todos os anos, as usinas a gás natural e a carvão já haviam sido ligadas, durante a estiagem. O acionamento das térmicas a óleo diesel e a óleo combustível, no entanto, só ocorre em circunstâncias excepcionais porque elas são mais caras e poluentes. De acordo com fontes do mercado, foram acionadas termelétricas com custo de operação de até R$ 711 por megawatt-hora. O custo das hidrelétricas chega a ficar abaixo de R$ 50 por MWh. Usinas eólicas foram licitadas nos últimos anos com tarifa em torno de R$ 100.

"É um procedimento normal que o ONS segue e está disciplinado na operação", afirmou o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann. Ele descartou o risco de problemas no fornecimento de energia no Nordeste. "O nosso sistema é hidrotérmico e utiliza esses recursos sempre que necessário. Você monitora permanentemente e toma as medidas na hora em que tem que tomar. É o que o ONS está fazendo agora."

O fenômeno climático El Niño atrasou a chegada das chuvas e diminuiu o volume de água acumulada nos reservatórios. No Nordeste, eles precisam chegar ao fim do ano com 34% de sua capacidade para ficar dentro da margem de segurança. Hoje estão com 37,4% - o menor percentual de armazenamento desde 2003. No reservatório de Sobradinho, o nível baixou para 25,4%. Normalmente o volume começa a subir nesta época do ano, mas a demora das chuvas começa a preocupar o governo.

Conforme explica o presidente da consultoria Andrade & Canellas, João Carlos de Oliveira Mello, o uso das térmicas a óleo constitui o "último recurso" para proteger o sistema elétrico contra riscos maiores. "O passo seguinte é rezar", diz o especialista, que elogiou a estratégia adotada pelo ONS. Por enquanto, ele não vê nenhuma ameaça para a segurança do sistema em 2013, como a necessidade de um racionamento.

A contrapartida é que o custo de operação das térmicas acaba sendo rateado por todos os consumidores, por meio do Encargo de Serviços do Sistema (ESS), que reflete no reajuste das distribuidoras no ano seguinte. Em 2011, a conta do ESS ficou em R$ 1,4 bilhão, com queda de R$ 300 milhões sobre o ano anterior. Uma associação do setor, que pediu para não ser identificada, calcula em R$ 35 milhões por dia o custo de acionamento dessas usinas.

Em nota, o ONS não informou por quanto tempo essas térmicas ficarão ligadas, mas disse que a medida será discutida em reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), na segunda-feira.

O diretor-presidente do ONS, Hermes Chipp, disse que, desde setembro, a metodologia de operação do sistema já indicava a necessidade de acionar as térmicas a óleo para manter os "níveis-meta" dos reservatórios. A adoção da medida foi adiada até ontem, evitando uma despesa de R$ 1,4 bilhão em custos de geração, segundo ele. "Estávamos esperando água (chuva). Como ela está demorando para chegar, vale a pena acionar as térmicas", disse.

De acordo com Chipp, foram ligadas usinas para gerar 1,1 mil MW no Nordeste. O restante será acionado no Sudeste, mas permitirá aumentar a transferência de energia para o Nordeste. Ele não confirmou a informação de que o preço máximo das térmicas despachadas é de R$ 711/MWh e afirmou que as usinas ligadas têm potência de até 160 MW.