Título: Cenário externo vai afetar o Brasil, mas previsões exigem cautela, diz Langoni
Autor: Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 02/03/2007, Brasil, p. A2

A turbulência que se instalou nos mercados esta semana vai afetar as perspectivas de crescimento para o Brasil e a boa trajetória que o país trilhava rumo à classificação de grau de investimento? Para o economista Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial (Cem-FGV), o Produto Interno Bruto (PIB) poderia alcançar, este ano, uma expansão maior do que os 2,9% de 2006, mas ainda inferior aos almejados 5%. "Talvez 4%", pondera ele. Langoni ressalta, porém, que ainda é cedo para prever os efeitos do cenário externo, que será crítico para o desenvolvimento da economia interna.

De qualquer maneira, o economista ressalta que o país deve continuar seguindo a receita que usou até aqui. "Apesar de estar crescendo menos que seus pares emergentes, o Brasil tem optado pelo caminho mais responsável, e por isso também mais árduo, de elevar o nível de atividade mantendo a inflação sob controle e sem ceder à tentação de fórmulas mais heterodoxas, como fizeram Argentina e Venezuela", diz o economista.

Langoni lembra que a desaceleração da economia americana já vinha se desenhando, mas o crescimento de emergentes, sobretudo na Ásia, vinha funcionando como um contraponto. "Como será esse arranjo agora, após toda essa turbulência é o que todos estão querendo debater para entender se o que está acontecendo é apenas uma coisa pontual ou se é o prenúncio de um novo ciclo", lembra Langoni. "A perspectiva para a economia brasileira depende criticamente desse cenário da economia mundial, apesar de termos bons fundamentos", diz.

Para ele, o país está hoje em um novo contexto, crescendo sem inflação, com a economia mais aberta e o setor privado liderando o ritmo do crescimento. "O consumo e a renda vem subindo em um ritmo mais forte, assim como o segmento de bens de capitais e a importação de máquinas e equipamentos estão um pouco mais acelerados que a média do PIB", lembra. "Agora precisamos focar nessa questão da infra-estrutura, que está colocada no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC)", acredita.

Outra questão que precisa ser debatida, lembra ele, é a do superávit primário e da relação dívida versus PIB. "Por outros critérios já seríamos grau de investimento, o calcanhar-de-aquiles ainda é a dívida, por isso é pertinente refletir se não deveríamos ser responsáveis e manter o superávit em pelo menos 4,25%", avalia Langoni.

Para debater esses temas, o Cem-FGV organizou o seminário "Cenários da Economia Brasileira e Mundial", em parceria com a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) e o Valor, na próxima segunda-feira, no auditório da Firjan, no centro do Rio. "Já virou uma tradição este encontro anual e este ano ocorre num momento extremamente oportuno, em que todos querem discutir o que está acontecendo no cenário mundial", diz Langoni.

O evento terá a participação e do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo e do economista e ex-diretor do Banco Central Ilan Goldfajn, que fala sobre o cenário externo. O presidente da Light, José Luiz Alquéres, e Paulo Godoy, da Associação Brasileira da Indústria de Base (Abdib), participam no bloco sobre as perspectivas setoriais. O economista Fábio Giambiagi fala sobre a economia local, e Amaury de Souza , diretor da MCM Consultores, traça o cenário político.