Título: Boi no pasto e carne cara
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 25/11/2010, Economia, p. 21

Preços elevados ainda castigarão a população ao menos até janeiro, quando o efeito da estiagem deve se dissipar e os abates serão retomados. Mas produtor só vê normalização em março

A estiagem prolongada até o fim de setembro ainda está afetando a recuperação das pastagens no Centro-Oeste e pode provocar atraso de mais de um mês na oferta de boi de pasto pronto para abate, o que deve contribuir para manter os preços em patamares elevados no mercado interno. Analistas do setor sustentam que a normalização só deve ocorrer a partir de janeiro, um cenário que contribui para manter os preços da arroba, que atingiram recordes neste ano, nas alturas.

Números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados ontem mostram que o rebanho bovino brasileiro cresceu 1,5% em 2009 sobre 2008, atingindo 205,3 milhões de cabeças no ano passado, mas os abates caíram ¿ situação que reflete no preço da carne, já que o mercado está carente de animais prontos para o consumo. O abate de animais em 2009 totalizou 28,063 milhões de cabeças, contra 28,69 milhões de cabeças registradas em 2008. A cotação da arroba superou a marca de R$ 100 por arroba neste ano. O indicador Esalq/BMF&Bovespa chegou a bater R$ 117 por arroba na primeira quinzena de novembro, e a carne bovina passou a ser destaque das altas dos índices de inflação.

¿Sempre temos as primeiras chuvas em setembro, mas este ano vieram somente no fim de outubro. Isso vai atrasar em uns 60 dias a oferta de gado terminado a pasto¿, afirmou Antenor Nogueira, presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte. Pessimista, ele avalia que o pico da oferta de animais de pasto só deve ocorrer em março. O Centro-Oeste, que segundo Nogueira concentra aproximadamente 60% do rebanho do país, ainda teve o agravante das inúmeras queimadas nas áreas de cerrado. ¿Quando o pasto é queimado, a rebrota demora mais¿, afirmou.

Mato Grosso O problema ocorre justamente no período em que a demanda por proteínas animais se fortalece com recursos do 13º salário e os preparativos para os feriados de fim de ano. Em algumas regiões de Mato Grosso, estado com maior rebanho no país, o atraso nas primeiras ofertas pode ser de um mês, segundo relato do diretor técnico da AgraFNP, José Vicente Ferraz, que esteve na região na semana passada. ¿As chuvas começam a se normalizar. Os pastos em Rondonópolis (sul do Estado) estão verdes e rebrotando, mas a oferta de boi gordo só deve começar na segunda quinzena de janeiro¿, afirmou.

Se o ritmo do setor fosse mantido, os animais para abate da região Centro-Oeste começariam a chegar ao mercado em meados de dezembro, contribuindo para esfriar o movimento de alta registrado desde agosto nos preços. ¿O normal seria que já saísse um volume melhor de gado em dezembro, mas agora isso só deve ocorrer em janeiro¿, observou Ferraz. ¿É preciso considerar que não é só o clima. Este é mais um fator, que se soma ao problema de escassez de oferta.¿

Otimismo dispara

Impulsionada pelas classes de menor rendimento, a confiança do consumidor brasileiro atingiu recorde de alta em novembro, mostrou pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV). O índice subiu 2,7% em relação a outubro, para 125,4 pontos, alcançando novo recorde da série iniciada em 2005. ¿Em novembro de 2010, os consumidores brasileiros estão mais satisfeitos com a situação atual e otimistas em relação aos seis meses seguintes¿, afirmou a entidade.

O componente de situação atual avançou 4,5% em novembro, para 147,5 pontos, também maior nível histórico. O de expectativas subiu 1,5%, para 113,6 pontos. ¿O indicador que mede o grau de satisfação dos consumidores com a situação econômica atual foi o que mais influenciou na evolução favorável do índice de confiança em novembro¿, disse a FGV. O número de consumidores que avaliam a situação como boa aumentou de 31,7% em outubro para 34,6% em novembro.

A confiança da população com renda familiar mensal de até R$ 2.100 e até R$ 4.800 cresceu 5,2% e 3% respectivamente, acima dor percentuais de 0,8% e 1,2% das pessoas com renda de R$ 4.880 a R$ 9.600 e acima de R$ 9.600.

PEQUENA INDÚSTRIA ESTÁ SEM FÔLEGO O crescimento da produção industrial não atingiu as pequenas empresas em outubro, revelou o levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Enquanto o índice da produção das grandes empresas subiu de 53,6 pontos em setembro para 56,1 pontos, o das pequenas recuou de 52,5 em setembro para 51,2 pontos. A utilização da capacidade instalada (UCI) das pequenas indústrias também ficou abaixo do usual para os meses de outubro, com 47,9 pontos, enquanto a utilização da capacidade instalada das grandes foi de 50,2 pontos, patamar habitual no período. No geral, as expectativas de demanda e de compra de matérias-primas em novembro para os próximos seis meses continuaram positivas, mas foram as mais pessimistas desde julho de 2009. Os empresários também estão menos otimistas (57 pontos) sobre a demanda, item que marcava 59,8 pontos em abril de 2007.