Título: Saldo do 1ºbi cai em relação a 2006
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 02/03/2007, Brasil, p. A8

Pela primeira vez desde 2001, o saldo comercial do primeiro bimestre do ano é inferior ao do mesmo período do ano anterior. O superávit de US$ 5,37 bilhões, registrado pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) nos meses de janeiro e fevereiro, foi menor que os US$ 5,62 bilhões verificados nos primeiros dois meses do ano passado. Segundo o secretário Armando Meziat, é sinal da redução do saldo comercial que deve ocorrer este ano, provocando desvalorização da moeda brasileira se for mantido o ritmo de maior crescimento das importações.

Em janeiro e fevereiro, a balança comercial teve exportações de US$ 21,06 bilhões e importações de US$ 15,69 bilhões. O ritmo de aumento das compras foi de 26,6% no período. Para as vendas, o crescimento foi bem menor: 16,9%. Mas nos últimos 12 meses, a redução do saldo ainda não ocorreu. De março de 2006 a fevereiro de 2007, o superávit foi de US$ 45,83 bilhões. Nos 12 meses anteriores, o saldo foi de US$ 45,36 bilhões.

Para Edgard Pereira, economista do Iedi, o mercado já "precificou" a redução do saldo comercial em 2007, portanto, esse movimento não deve significar relevante desvalorização do real. A pesquisa Focus, do BC, já considera um superávit de US$ 39 bilhões, bem menor que os US$ 46,07 bilhões de 2006. "O perfil das exportações brasileiras ainda tem muito peso de commodities ou quase commodities. Isso significa instabilidade quanto aos preços", disse Pereira.

Meziat revelou que o governo está preparando nova missão comercial à China ainda no primeiro semestre. O objetivo é ter uma postura mais ativa para conquistar espaço para os manufaturados brasileiros Até o momento, o Brasil tem adotado uma posição mais defensiva ao negociar limitações a algumas exportações daquele país.

No ano passado, o Brasil exportou US$ 8,39 bilhões para a China, o que significou crescimento de 22,91% sobre 2005. Os principais produtos vendidos foram: minério de ferro, soja, petróleo, couros, celulose e madeira. Mas o crescimento das importações de produtos chineses teve aumento de 49,2% e totalizaram US$ 7,98 bilhões. Os principais itens comprados foram partes de celulares, máquinas automáticas, partes de computadores, circuitos eletrônicos, dispositivos de cristal líquido, motores, geradores, celulares, tecidos e brinquedos. O que preocupa o governo é o perfil desse comércio bilateral.

Nos destaques da exportação em janeiro e fevereiro, os semimanufaturados tiveram alta de 29,1%, os básicos cresceram 26,3% e os embarques de manufaturados elevaram-se em 10,3%. No lado das importações, a maior variação foi nos bens de consumo: 35,8% sobre o 1º bimestre de 2006. Seguiram-se as altas nas compras de bens de capital (25,6%) e matérias-primas e intermediários (25%). Em fevereiro, a balança comercial registrou recordes para este mês no valor das exportações (US$ 10,1 bilhões), importações (US$ 7,22 bilhões), saldo (US$ 2,87 bilhões) e corrente de comércio (US$ 17,33 bilhões).

Meziat afirmou que o aumento das importações decorre do câmbio favorável, mas que isso não é, necessariamente, ruim para a economia. "Mesmo substituindo temporariamente produtos nacionais, o aumento da importação é benéfico, porque permite mais investimento, mais consumo e mais demanda. Se as importações são desleais, temos instrumentos de defesa comercial. Nossa indústria tem de se adaptar e concorrer. Não há Como exemplos de adaptação da indústria nacional, o secretário citou os setores calçadista, têxtil e de móveis, que sofreram com a taxa de câmbio. Desses três, apenas o de calçados reduziu a quantidade exportada no 1º primeiro bimestre, mas todos tiveram maiores valores nas vendas externas.