Título: Jarbas aponta rumos para a oposição
Autor: Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 02/03/2007, Política, p. A10

Na sua reestréia no Congresso, depois de uma ausência de 21 anos, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) fez ontem discurso com duras críticas ao governo e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Num balanço da gestão Lula, nada escapou à censura de Jarbas, que reafirmou sua condição de oposicionista, apesar da decisão do PMDB em apoiar o governo.

"Já dissemos antes e repetimos agora: temos grandes dificuldades em acreditar no que este governo promete. O seu histórico político aponta para obstáculos redundantes", disse ele, mencionando três promessas da campanha de 2002, não-cumpridas por Lula - a construção da Transnordestina, a transposição do rio São Francisco e a criação e implantação da Sudene.

Segundo Jarbas, em quatro anos, o governo Lula investiu, em média, muito menos do que Fernando Henrique Cardoso em seus dois mandatos. "O presidente precisa deixar para trás o período do verbo e entrar na era da ação", declarou o senador pernambucano, um pouco antes de ironizar um cacoete de Lula. "Nunca antes neste país, como gosta de afirmar o presidente, se viu uma conjuntura internacional tão favorável. A verdade é que perdemos quatro anos de vento forte ao nosso favor."

Jarbas elogiou o Programa de Aceleração do Crescimento, mas advertiu que a iniciativa não pode se transformar num "mero palanque eleitoral" do PT e de Lula. Em seguida, voltou a criticar os petistas por terem, "de forma eleitoreira", segundo ele, levantado dúvidas sobre as privatizações feitas por FHC. "Esses arroubos de viés populista maculam a credibilidade política do governo na sua relação com as forças que hoje estão na oposição e, sobretudo, com os investidores privados."

Durante a campanha, disse Jarbas, aliados de Lula usaram o mesmo artifício ao afirmarem que o Bolsa Família seria extinto caso a oposição vencesse a disputa. "Uma prática similar à utilizada por ditaduras contra seus adversários. 'Esperteza demais engole o esperto', diz o dito popular. Uma máxima que talvez sirva de alerta ao governo", sugeriu o senador. "Tamanha 'astúcia política', no entanto, foi insuficiente para tirar o Brasil da lanterna do crescimento econômico nas Américas, pois no Continente aparecemos à frente apenas do Haiti", ironizou.

Jarbas afirmou que há um "consenso" de que não basta reduzir a taxa de juros para o Brasil crescer mais. A carga tributária, que no governo Lula pulou de 36% para 39% do PIB, é um obstáculo ao crescimento. "Mais importante do que ser reverenciado como o criador do Bolsa Família, Lula deveria lutar para ser reconhecido como o líder brasileiro que estabeleceu as condições para que o benefício deixasse de ser uma necessidade", recomendou o senador.

Jarbas reclamou da falta de um planejamento eficiente do governo para acabar com os gargalos de infra-estrutura. Criticou o aumento dos gastos e o contingenciamento dos recursos para segurança. "A verdade é que a grande trava do desenvolvimento no Brasil é o governo, com excessiva carga tributária, uma baixa capacidade de investimento e crescentes gastos públicos correntes." O senador foi duro também quando comentou a "questão ética" na era Lula. Segundo ele, "nunca um governo foi tão confuso e tão acintosamente justificou a tese de que 'os fins justificam os meios', sendo complacente com o fisiologismo e o aparelhamento do Estado". Durante o discurso, Jarbas recebeu vários apartes elogiosos. "Vossa Excelência tirou a roupa do rei, sem violência, com elegância", disse Geraldo Mesquita (PMDB-AC). Eduardo Suplicy, do PT, sugeriu que Lula leia o discurso. "O senhor falou como um amigo da nação."