Título: Argentina não precisa do FMI, diz Kirchner
Autor: Rocha, Janes
Fonte: Valor Econômico, 02/03/2007, Internacional, p. A11

No mais longo discurso de sua gestão, o presidente da Argentina Nestor Kirchner, reafirmou ontem os rumos da política econômico e frisou que não aceita a presença do Fundo Monetário Internacional (FMI) nas negociações para pagamento da dívida do país com o Clube de Paris.

O presidente argentino falou durante 2 horas e 15 minutos na abertura dos trabalhos do Congresso. Ratificou suas relações com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e criticou o do Uruguai, Tabaré Vazquez, pelo que qualificou de má vontade para negociar em torno da questão da fábrica de papel e celulose da finlandesa Botnia, na beira do rio Uruguai. A disputa levou os dois países ao Tribunal de Haia. Kirchner acusou Vazquez de dar fim ao diálogo bilateral e afirmou que ele está cometendo um "erro estratégico".

"Senhores, nós somos soberanos. Queremos pagar a dívida do país mas sob nenhum aspecto vamos voltar a negociar com o FMI para pagar ao Clube de Paris", disse Kirchner. Depois da crise de 2002, a Argentina usou US$ 10,2 bilhões para quitar a dívida com o Fundo, no início de 2006. Após a polêmica restruturação da dívida externa de US$ 100 bilhões, em 2005, o país ainda tem um débito de US$ 5,7 bilhões com o Clube de Paris, o que exige negociar diretamente com os 19 países membros a instituição.

Kirchner respondeu, em seu discurso no Congresso, a um recado dado no início de fevereiro pelo porta-voz do FMI, Massot Ahmed, que disse que "em geral, a norma sempre foi de que a restruturação de dívidas com o Clube de Paris se produza junto com um programa do FMI".

Kirchner capitalizou ao máximo o forte crescimento da economia. Desde a crise em 2002, quando o Produto Interno Bruto do país caiu mais de 10%, a Argentina se recuperou e cresceu 8,7% em 2003, 9% em 2004, 9,2% em 2005 e 8,6% em 2006. A inflação caiu de 12% em 2005 para 9,8% em 2006 e todos os indicadores sociais do país melhoraram. O dado mais recente, divulgado quarta-feira, foi a queda do índice de desemprego para 8,7% em 2006, o mais baixo em 14 anos.