Título: Petrobras vai assegurar estoque de álcool
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 02/03/2007, Especial, p. A14

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer usar a Petrobras para assegurar, nos períodos de entressafra, o abastecimento e evitar a disparada de preços do etanol tanto internamente como nos mercados externos que o Brasil atende. Segundo o presidente, se há problema na entressafra, que dura quatro meses, é preciso haver, no mínimo, um estoque regulador para esse período. " Quem é que pode fazer isso no Brasil se não a Petrobras"?

"A Petrobras é o cartão de crédito da mais alta qualidade em qualquer lugar do mundo", acentuou o presidente.

Lula disse que o álcool como fonte alternativa de combustível deve ser o principal assunto de sua conversa com o presidente americano George Bush, no dia 9, em São Paulo. Disse que pretende convencer os Estados Unidos de que, "em função inclusive da situação climática", o biocombustível não pode ser a "aventura de um único país".

" É preciso que seja uma decisão política de um conjunto de países, para que a gente trabalhe na perspectiva de criar uma nova matriz energética na área de combustível", afirmou Lula. "Está provado que nós não podemos ficar dependente historicamente do petróleo". Nesses 30 anos - argumentou - se falou muito no gás hidrogênio, mas "o dado concreto é que nós não estamos mais falando em perspectivas sonhadoras. Nós estamos provando que é possível". Lula citou o exemplo do carro flex fuel (biocombustível), do qual se orgulha porque se sente "parte disso", de vez que o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo talvez tenha sido o sindicato "que fez as melhores propostas desse país para utilização do carro a álcool". Lula diz que recuperou a indústria sucroalcooleira - "eles conquistaram a cidadania, porque eram tratados como coisa de segunda categoria".

Para o presidente, no momento em que o Brasil começa começa a oferecer ao mercado internacional o etanol como alternativa de combustível, é preciso " aumentar mais a seriedade do Brasil, mais a seriedade dos empresários". Sobretudo é preciso ter um mercado regulador: "Na hora em que cada um de vocês tem um caro flex fuel - se não compraram, comprem porque vocês vão ganhar -, você precisa garantir no posto de gasolina o álcool. Você não pode ficar subordinado ao preço do açúcar. O álcool é combustível. Imagina você negociar com o Japão e chegar um belo dia o japonês descobrir que no posto não tem álcool porque o Brasil não entregou. Seria uma catástrofe para o Brasil".

O presidente negou que o Programa de Aceleração do Crescimento possa passar por alguma revisão para adequá-lo às novas exigências ambientais.

Lula disse que tem conversado muito com a ministra Marina Silva sobre a questão ambiental. "Temos de ter muito cuidado com o discurso dos países ricos. Porque nós não podemos ficar aceitando lições que os países ricos querem dar pra gente, dizendo que nós precisamos não desmatar, e por conta desse discurso deles, eles não decidem diminuir a emissão de gases".

Segundo Lula, os países ricos são responsáveis por 70% da emissão de gases do planeta. "Eles é que precisam tomar a iniciativa. E o Brasil está muito a cavalheiro por causa disso. O Brasil com o biocombustível está dizendo para o mundo que há uma solução. Uma solução de duplo benefício. O primeiro, quando você planta um pé de árvore você está seqüestrando da atmosfera o carbono. E quando você está produzindo combustível renovável você está emitindo menos gases. Então nos estamos praticando um duplo benefício. Eles é que ficam fazendo menos".

O presidente mencionou um estudo da Embrapa sobre o que ocorreu no mundo nos últimos oito mil anos. "E o que acontece? É que o Brasil ainda tem 69% das suas matas, agora a Europa tem 0,3%, os EUA tem 0,5%, a América do Norte tem 29%, por conta do Canadá. Mas então eu acho que se nos EUA se produzisse um carro um pouco menor, um carro a álcool, que consumisse menos gasolina, seria bom".

Sobre a relação com os Estados Unidos e a acusação freqüente de que a política externa brasileira é anti-americana, Lula disse que "o Brasil tem relações estratégicas com os EUA e a Europa" e que a relação entre os dois países está bem "madura". O presidente, no entanto, acredita que os EUA cometeram o "erro histórico de nunca dar a devida atenção à América Latina e à América do Sul em particular." Segundo Lula, é possível ter uma relação cordial sem que isso signifique subserviência. Afirmou que o Brasil já teve, sim, no passado, uma postura subserviente em relação aos EUA. (RC)