Título: Maioria dos fundos multimercados teve perdas dia 27
Autor: Camba, Daniele
Fonte: Valor Econômico, 02/03/2007, EU & Investimentos, p. D1

Os fundos multimercados - que podem aplicar em bolsa, juros, câmbio e dívida externa - não escaparam da turbulência dos mercados financeiros. Levantamento do Valor com base nos dados do site financeiro Fortuna com gestores independentes - que correm maiores riscos - mostra que, no dia 27, apenas oito de 52 fundos não tiveram perdas. Destes, cinco carteiras perderam entre 1% e 2%. No mês, 23 fundos da mostra tinham retorno abaixo do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), de 082%. No ano, 18 carteiras apresentavam ganhos inferiores aos 1,91% do CDI.

Entre os fundos de arbitragem, conhecidos como long/short, das 49 carteiras avaliadas, 20 tiveram perdas dia 27, mas apenas 13 tinham rendimento inferior ao CDI no mês e no ano.

As carteiras que adotam a estratégia macro foram as que mais perderam no dia 27, quando o Ibovespa caiu 6,63%, segundo a Arsenal Investimentos, escritório de aconselhamento financeiro. Esses fundos procuram ganhar antecipando as tendências de mercado e a maioria mantinha apostas positivas para bolsa, juros e câmbio. Com a mudança repentina de humor, vieram as perdas. No dia 27, os multimercados macro perderam, em média, 0,56%, segundo a Arsenal. Mesmo assim, em fevereiro, até dia 27, a categoria ganhava do CDI, com 0,95%, frente a 0,82% do referencial. No ano, as carteiras macro apresentavam retorno médio de 2,12% ante 1,91% do CDI.

O Índice Arsenal Arbitragem - formado por multimercados que buscam ganhar com a diferença de preços entre vários mercados - registrava perda de 0,31% no dia 27 e, no mês, rendia 0,79%, abaixo, portanto, do CDI do período. Segundo Gustavo Coelho, responsável pela área de alocação da Arsenal, a queda foi acentuada por uma carteira que apresentou forte perda naquele dia. Ele não quis revelar qual fundo. No ano, a categoria registrava ganho de 1,83%.

O Valor descobriu, no entanto, que a carteira é o Santander Dinâmico, um fundo quantitativo (que adota modelos matemáticos e estatísticos para definir o portfólio), que perdeu 2,45% somente no dia 27. Procurado, o banco não comentou o assunto. No ano, o Dinâmico apresentava queda de 1,03%.

O Índice Arsenal Equity Hedge - de fundos de arbitragem com ações comprando um papel e vendendo outro relacionado, para ganhar com a diferença - perdeu 0,26% em média no dia 27. Esses fundos tendem a apresentar maior estabilidade que os macro por trabalharem mais com papéis individuais do que com tendências do mercado. A categoria apresentou o melhor desempenho em fevereiro, com 1,09%, e no ano, com retorno de 2,39% e média.

Os multimercados que adotam a estratégia trading tiveram as menores perdas no dia 27, de 0,08%, em média. São carteiras que adotam posições direcionais, mas o gestor busca capturar os movimentos de curto e médio prazos constantemente, como uma tesouraria de banco. Em fevereiro, até dia 27, registravam ganho de 0,89% e, no ano, de 1,86%.

O mercado deve continuar com forte oscilação, variando com as notícias da China e dos EUA, diz Coelho. "O que se pôde ver é que a tendência dos gestores de seguirem todos na mesma direção está menor do que antes", diz. "É o começo de um processo de menor correlação entre os gestores." Já Luis Stuhlberger, da Hedging-Griffo, considera normais esses prejuízos. "Alguns fundos estavam alavancados e, numa mudança dessas, há perdas, mas há também oportunidades de ganhos", lembra.

(Colaborou Angelo Pavini)

Excepcionalmente, a Carteira Valor de março será publicada na segunda-feira.