Título: Lula adverte que é cedo para discutir cargos
Autor: Cunto, Rapahel Di ; Manzoni, Leandro
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2012, Política, p. A8

O comício no ginásio do Canindé, na zona norte de São Paulo, foi a principal atração do programa de TV do candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, ontem à noite, ocupando 60% dos 10 minutos de duração da propaganda. Realizado no sábado, o comício contou com as participações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff. Oito ministros também estiveram no palanque, além do vice-presidente da República, Michel Temer, e deputado federal Gabriel Chalita (PMDB), que disputou o primeiro turno da eleição paulistana pelo seu partido. No programa levado ao ar ontem, os discursos de Chalita e Temer tiveram destaque assim como os de Lula, da presidente e do candidato petista. O restante do programa trouxe as propostas do candidato para a área de transportes, saúde e educação.

Foi no comício que Lula cobrou de aliados que não especulem sobre cargos em um eventual governo de Haddad antes do dia da eleição. "Ninguém pode comer o angu antes de estar pronto", afirmou o ex-presidente no comício. Ontem, Haddad não teve agenda de campanha e, segundo sua assessoria, passaria o domingo descansando com a família.

Lula disse que tem lido especulações sobre a divisão da prefeitura por aliados, mas que isso não se discute agora porque o partido "ainda não ganhou nada" e que é preciso deixar de lado o salto alto para não acreditar na vitória cedo demais. "Alguém que está falando que quer cargo agora tem que ficar sem nada", disse, dirigindo-se a Haddad.

O ex-presidente, que disse para Haddad não entrar no "jogo rasteiro do adversário", focou o discurso em ataques ao ex-prefeito e ex-governador José Serra (PSDB). "O bicho tem uma sede de poder inigualável", afirmou, ao lembrar das renúncias do tucano ao mandato de prefeito em 2006, para concorrer ao governo do Estado, e depois ao próprio governo em março de 2010, para se candidatar à Presidência da República. "O povo tem que tomar cuidado com esse tipo de gente, que nunca está satisfeita com o mandato que tem", atacou.

No mesmo comício, a presidente Dilma Rousseff afirmou que o PT é um partido que não persegue fé nem faz distinção da legenda do prefeito ou governador ao distribuir recursos. "Jamais olhamos a cor da camisa do prefeito ou do governador. Sempre garantimos recursos para todos", disse ao discursar.

Na campanha, o PT tem acusado o prefeito Gilberto Kassab (PSD), aliado do candidato José Serra (PSDB), de não firmar parcerias com o governo federal para não permitir que os petistas ganhem crédito por obras realizadas na cidade. Haddad também atribui a Serra ataques em relação ao chamado "kit gay", material de combate à homofobia produzido pelo petista no Ministério da Educação.

Na campanha de 2010, quando Serra concorria à Presidência da República, Dilma foi criticada pelos mesmos líderes religiosos por sua posição favorável ao aborto. "Um pouco do que o Haddad está passando, eu passei na minha eleição", afirmou a presidente. "Durante toda a campanha, disseram que eu era um poste. Depois, que não tinha competência. Depois, que eu era uma mulher e que não faria um governo de responsabilidade", emendou.

Dilma fez um discurso de quase 17 minutos. Na maior parte do tempo, exaltou as qualidades do ex-ministro e do próprio governo. "O Haddad participou da maior revolução democrática pacífica que esse país enfrentou."

Mais cedo, em Campinas, onde participou, também com Dilma, de comício do candidato a prefeito do PT na cidade, o ex-presidente do Ipea Marcio Pochmann, Lula falou sobre sua derrota nas eleições presidenciais de 1989 e afirmou que o Brasil perdeu a chance de evoluir a partir daquele momento.

O ex-presidente fez duras críticas ao concorrente de Pochmann, o deputado federal e ex-radialista Jonas Donizette (PSB): "Não há na história deste país radialista que distribui cadeira de roda que tenha dado certo como prefeito de uma cidade."

Já Dilma fez elogios a Pochmann e disse que ele faz parte de seu "time que está marcando um gol" para o Brasil, juntamente com seus ministros que estavam presentes no palanque, entre eles Alexandre Padilha (Saúde), Izabella Teixeira (Meio Ambiente), Tereza Campello (Desenvolvimento Social) e Aloizio Mercadante (Educação), além dos presidentes estadual e nacional do PT, Edinho Silva e Rui Falcão, respectivamente.

A coligação de Haddad, terá que deixar de veicular propaganda eleitoral em que exibe parte de uma entrevista do adversário José Serra (PSDB) ao jornalista Gilberto Dimenstein, da rádio CBN. A decisão liminar é do juiz da 1ª Zona Eleitoral, Henrique Harris Júnior. O mérito da ação ainda será julgado, mas cabe recurso ao Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo.

O trecho questionado pela coligação de Serra, reproduz parte de uma entrevista em que o candidato tucano é questionado pelo jornalista sobre seu comprometimento em cumprir o mandato de prefeito durante os quatro anos, caso seja eleito. Procurada, a campanha de Fernando Haddad informou que vai acatar a decisão, mas que apresentará recurso ao TRE-SP.