Título: Para Malafaia, Kassab e renúncia prejudicam Serra e não o kit gay
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 23/10/2012, Política, p. A9

"Se Serra tem rejeição, põe isso na conta do Kassab. É ridículo achar que o "kit gay" aumentou a rejeição dele". O pastor Silas Malafaia, líder da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, eleva o tom de voz, que já é alto, ao falar sobre o peso de seu apoio ao candidato do PSDB, José Serra, na disputa pela Prefeitura de São Paulo. "São os oito anos de Kassab que pesam contra Serra. É o fato de ele ter renunciado. Nessa eleição, o que se mostrou é que quando o eleitor não gosta do prefeito, ele troca".

Protagonista da discussão sobre o material anti-homofobia chamado de "kit gay" no segundo turno, Malafaia credita à gestão do prefeito da capital, Gilberto Kassab (PSD), o crescimento da rejeição do tucano, que chegou a 52% na última pesquisa Datafolha. O líder religioso reclama de críticas feitas por integrantes da campanha tucana quanto ao seu engajamento pró-Serra. "O pessoal da campanha do Serra quer arrumar bode expiatório. Por que só falaram disso agora e não falaram no primeiro turno que meu apoio atrapalharia?", disse ao Valor, na sexta-feira.

A adesão "oficial" de Malafaia à campanha de Serra se deu uma semana antes do primeiro turno, quando Celso Russomanno (PRB) estava à frente nas pesquisas de intenção de voto. Com um cenário indefinido, o tucano podia ficar fora do segundo turno e a disputa poderia ser entre Russomanno e Fernando Haddad (PT). Malafaia não queria a vitória de Russomanno, apoiado por seu desafeto, o bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do reino de Deus, nem a de Haddad. O líder evangélico procurou o tucano Walter Feldman, um dos coordenadores da campanha do PSDB, com quem mantém frequentes diálogos.

"Liguei para Feldman no domingo anterior à eleição e disse: "seu candidato está com sorte. Vou declarar apoio e dar uma força". Tava todo mundo com medo de o Serra não ir para o segundo turno"", disse, relatando que o apoio foi comemorado.

Ao defender o tucano, Malafaia colocou o kit anti-homofobia no centro do debate. A seis dias do primeiro turno, divulgou um vídeo de oito minutos com uma mensagem ao "povo abençoado de São Paulo", cheia de ataques a Haddad, descrito como o autor do "kit gay" que "ensina o homossexualismo" às crianças.

Um dia depois do primeiro turno, Serra ligou para Malafaia, segundo o religioso, para agradecer o apoio e o empenho na campanha. No dia seguinte, o líder evangélico, com base no Rio, reuniu-se em São Paulo com o tucano para discutir o segundo turno. Na mesma semana, Malafaia divulgou um novo vídeo, com mais ataques ao petista e ao "ensino do homossexualismo", com o "kit gay".

O religioso disse não ter recebido, em nenhum momento, pedidos da campanha tucana para reduzir as críticas ao material anti-homofobia, que foi produzido em 2011 pelo Ministério da Educação quando Haddad estava à frente da Pasta. O kit foi vetado pela presidente Dilma Rousseff após pressão da bancada evangélica no Congresso. Tampouco Malafaia recuou do apoio a Serra depois que foi divulgado que o tucano distribuiu material semelhante em 2009, quando governou São Paulo.

Malafaia disse ter "certa influência" nas eleições. "Mas não sou o dono da cocada". Dos 18 candidatos a vereador que apoiou em todo o país, disse ter "eleito" 16, quase todos no Rio de Janeiro. Dos 25 candidatos a prefeito, 18 venceram e três estão no segundo turno. Entre os vencedores estão José Fortunati (PDT), em Porto Alegre, e de Eduardo Paes (PMDB), no Rio de Janeiro. "Quer dizer que em Porto Alegre, com o Fortunati eu ajudei e em São Paulo, com o mesmo discurso, eu prejudiquei?", disse. No segundo turno, apoia sete candidatos. Entre eles, Ratinho Junior (PSC), em Curitiba. "Se eu quisesse, apoiaria mais de 300 candidatos a prefeito. Alguns vêm dizendo: quanto é que é? Coisa de maluco", disse.

O religioso tenta ampliar a força de lideranças evangélicas nas eleições. "Depois de 2010, nós, evangélicos, entramos no processo eleitoral. Quero ver se algum candidato vai ser besta de fazer uma cartilha com insinuação homossexual", disse, lembrando do debate sobre o aborto que marcou o segundo turno da sucessão presidencial.

Apesar das críticas a Haddad, Malafaia disse que já votou no PT. "Não tenho partido político. Não tenho paixões políticas por candidaturas", disse. Em 2002, na disputa pela Presidência, apoiou Luiz Inácio Lula da Silva e gravou depoimento para o programa eleitoral. Na gestão Lula, foi indicado para integrar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social como representante dos evangélicos. O religioso disse que se afastou do PT durante a tramitação do PL 122 no Congresso, que criminaliza a homofobia, e depois de tentativas do governo de tentar puni-lo pelo conteúdo homofóbico dos programas que apresenta na televisão. O líder evangélico compra espaço para seus programas nas emissoras Rede TV, TV Bandeirantes e CNT.

Em 2010, Malafaia apoiou Serra contra Dilma Rousseff. Mesmo com ressalvas ao PT nesta eleição, o religioso já lançou a pré-candidatura do senador Lindbergh Farias (PT) ao governo do Rio, em 2014. "Lindbergh é amigo do povo evangélico e me defendeu na tribuna quando critiquei o uso de imagens religiosas na Parada Gay, mesmo sabendo que isso iria suscitar uma guerra dentro do PT".

Na reta final do segundo turno, Malafaia disse que assistirá à distância o segundo turno. O religioso deve embarcar hoje para a Inglaterra e só voltará depois das eleições. "Mas continuarei acompanhando e dando palpite", comentou.