Título: Energias do Brasil lucra 10,3% menos
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 02/03/2007, Empresas, p. B8

Um conjunto de efeitos extraordinários derrubou o lucro líquido do quarto trimestre de 2006 e também do ano passado da Energias do Brasil, companhia que atua no setor de geração, distribuição e comercialização de energia no país. Mas o ganho menor não impediu que a controlada da portuguesa EDP assistisse também a um incremento da sua receita líquida e do lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (lajida).

Entre outubro e dezembro de 2006, a Energias do Brasil registrou um resultado líquido de R$ 154,7 milhões, 0,4% menor que os R$ 155,3 milhões obtidos em igual período do ano passado. Já no ano passado, o lucro da empresa ficou em R$ 394,1 milhões, 10,3% inferior aos R$ 439,4 milhões auferidos em 2005.

António Martins da Costa, diretor-presidente da subsidiária do grupo português, explica que em 2005 a empresa registrou ganhos extraordinários, ao passo que no ano passado os efeitos foram negativos. Em outras palavras, a filial do grupo português obteve um ganho cambial de R$ 60,4 milhões e R$ 89,9 milhões de reversão relativos à provisão para perda de investimento registrada na EDP Lajeado, enquanto que em 2006 contabilizou as despesas integrais com o Programa de Demissão Voluntária (PDV), que foi de R$ 51,6 milhões, e mais R$ 40,2 milhões de provisão contra o risco de crédito de liquidação duvidosa na sua comercializadora do insumo, a Enertrade.

O PDV da Energias do Brasil, que alcançará 651 funcionários e deverá terminar em dezembro deste ano, já capturou sinergias de R$ 32 milhões até dezembro de 2006. Estima-se que possa trazer uma economia de R$ 68,4 milhões.

"Agora, caso excluíssemos esses efeitos extraordinários, teríamos um lucro líquido de R$ 340 milhões em 2005 e de R$ 455 milhões, em 2006. Isso, significa que não teríamos uma queda de 10,3% entre um ano e outro, mas sim um incremento de 34%", afirma Martins da Costa.

O desempenho, no entanto, não surpreendeu o mercado. Ricardo Martins, gerente do setor de Energia da Planner Corretora, conta que estimava um lucro líquido ao redor de R$ 400 milhões para a empresa em 2006.

O lajida também não decepcionou. Tanto que o indicador subiu 48,7%, saindo de R$ 194,8 milhões registrado no último trimestre de 2005 para R$ 289,6 milhões auferido entre outubro e dezembro de 2006.

Já a receita líquida do quarto trimestre de 2006 da Energias do Brasil alcançou R$ 1,24 bilhão, 19,1% superior aos R$ 1,040 bilhão obtidos em igual período de 2005. Assim como ao longo de todo o ano, quando o faturamento livre de impostos e tributos cresceu 5,5% e alcançou R$ 4,56 bilhões, o incremento da receita refletiu os reajustes tarifários concedidos às distribuidoras de energia, assim como a entrada em operação de todas as turbinas da usina hidrelétrica de Peixe Angical, localizada no Estado do Tocantis e com capacidade instalada de 452 megawatts (MW).

Com Peixe Angical em funcionamento, a Energias do Brasil afirma que a participação da geração deverá alcançar 25% da receita líquida em 2007. No ano passado, o setor representou cerca de 9% do faturamento, mais que o dobro do registrado em 2005. A distribuição representou 81% da receita líquida.

Outro indicador que deverá sofrer alteração é o investimento. Para este ano, a companhia estima aplicar R$ 763 milhões, bem diferente do gasto feito no ano passado, que foi de R$ 829,9 milhões. "O nosso investimento caiu de um ano para o outro, porque terminamos Peixe Angical. Mas afirmo que temos capacidade de investir US$ 1 bilhão", afirma o executivo.

Como o desejo da Energias do Brasil é equilibrar sua receita entre geração e distribuição, Martins da Costa não esconde que o foco atual é a geração. No entanto, o executivo assegura que se houver uma boa oportunidade na distribuição, já que este setor é fragmentado no Brasil, a empresa deverá avaliar.