Título: Vinte líderes evangélicos aderem a petista
Autor: Di Cunto, Raphael
Fonte: Valor Econômico, 23/10/2012, Política, p. A9

Líderes evangélicos de 20 igrejas e entidades declararam ontem apoio à candidatura de Fernando Haddad (PT) à Prefeitura de São Paulo para "por fim às perseguições e clima de medo imposto pelos governos" do ex-prefeito José Serra (PSDB), que disputa o segundo turno contra o petista, e do atual prefeito, Gilberto Kassab (PSD), que assumiu o cargo com a renúncia do tucano em 2006.

Em manifesto, os evangélicos acusam a atual gestão de "perseguir" as igrejas "com multas e até mesmo fechamento de templos, através da aplicação arbitrária da legislação municipal, como a Lei do Psiu", que determina regras para emissão de ruídos sonoros pelo comércio, indústria e igrejas.

Segundo os religiosos, os fiscais não respeitam a legislação e medem o volume dos ruídos na porta dos templos, quando o correto seria medir na residência de quem fez a reclamação. Procurada, a assessoria da prefeitura disse apenas que "atua seguindo critérios técnicos estabelecidos pela legislação vigente".

O manifesto também prega a liberdade para todas as crenças, a defesa incondicional do Estado laico, a promoção de políticas públicas de inclusão social e a manutenção e ampliação de parcerias da prefeitura com entidades mantidas por instituições religiosas para projetos de recuperação de dependentes químicos e combate as drogas.

"A observância desses princípios tem como garantia não apenas compromissos ora assumidos pelo candidato Fernando Haddad, mas também a experiência por nós vivida durante os governos petistas na cidade de São Paulo - Luiza Erundina e Marta Suplicy", diz o manifesto, que cita ainda o exemplo "extraordinário de relação saudável entre o Estado e as religiões" dos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff.

Ao fim da reunião, que foi fechada à imprensa, Haddad negou que sua campanha tenha buscado o apoio dos evangélicos, mas foi desmentido pelo pastor Renato Galdino, presidente do Conselho Político do Ministério de Santo Amaro da Igreja Assembleia de Deus, que disse ter sido procurado pelos deputados federais Cândido Vaccarezza (PT) e Devanir Ribeiro (PT).

O vereador José Américo e o deputado estadual Simão Pedro também participaram das articulações em busca de apoio político, que Haddad criticava quando eram feitas pelos candidatos adversários, que, segundo o petista, "instrumentalizavam as religiões".

Ontem, o petista disse que foi sua defesa dos princípios do Estado laico, do combate a qualquer tipo de intolerância e das parcerias público comunitárias que sensibilizou os evangélicos a manifestarem seu apoio. "É um gesto importante, que sinaliza que as igrejas não querem ser instrumentalizadas, o que querem é o respeito do poder público."

Haddad ainda disse que o apoio era em defesa do Estado laico e sem ataques aos adversários - em referência ao líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Silas Malafaia, aliado de Serra que tem divulgado vídeos na internet em que critica o material anti-homofobia produzido na gestão do candidato do PT no Ministério da Educação. "Ninguém veio aqui ofender ou falar mal do candidato adversário", afirmou Haddad, embora o manifesto criticasse o "clima de medo" imposto pelo tucano.

A maioria dos pastores presentes evitou falar com a imprensa. Apoiador de Celso Russomanno (PRB) no primeiro turno, Galdino disse que o "kit gay", atacado pela campanha do PSDB, não está em mais discussão e que, se seu filho recebesse material parecido em casa, o orientaria a não ler.

Autor do livro "Entre Deus, Diabo e Dilma", sobre a tentativa de Serra usar o aborto na campanha presidencial de 2010, o teólogo Leandro Seawright Alonso defendeu que todos os cidadãos sejam atendidos pelo Estado laico, mas, depois de evitar responder, disse que sua opinião pessoal é a de que o material anti-homofobia do MEC não deveria ser distribuído.

Ainda ontem, Haddad recebeu o apoio de dirigentes dos três maiores clubes de futebol do Estado - os presidentes Arnaldo Tirone, do Palmeiras, Juvenal Juvêncio, do São Paulo, e o ex-presidente do Corinthians e atual dirigente de seleções da CBF, Andrés Sánchez.