Título: País continua tentando sair do buraco da recessão
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 23/10/2012, Especial, p. A20

Coisas grandes são difíceis de manobrar, e não há nada maior do que a economia americana. Na maior parte do tempo, ela cresce, mas quando isso não acontece, os presidentes têm muito pouco poder para colocá-la de volta em seu rumo. Ronald Reagan sofreu uma recessão; Bill Clinton, não. Isso não torna Clinton, necessariamente, um presidente melhor do que Reagan. O homem que ocupou a Casa Branca um século atrás, William Howard Taft, disse certa vez: "As pessoas pensam que o presidente pode fazer a grama crescer e os céus ficarem azuis. Isso simplesmente não está ao alcance dele".

A profunda recessão que começou no governo de George W. Bush e continuou sob Obama estava predeterminada, embora poucas pessoas, durante o pico, tivessem consciência disso. Os consumidores tinham gastado à vontade na década de 2000, porque um boom imobiliário tinha convertido suas casas em caixas eletrônicos. O refinanciamento de financiamentos habitacionais - quando os mutuários "sacavam" dinheiro novo garantido pelo crescente valor de seus imóveis - tornou real o artificial, transformando a riqueza ilusória da bolha imobiliária em bens e serviços reais.

O peso da dívida acabou tornando-se insustentável e uma retração teve início em dezembro de 2007. O que a princípio parecia ser uma recessão comum transformou se numa crise mundial feroz, quatro outonos atrás, quando os temores de uma exposição invisível a calotes fez com que as maiores instituições financeiras mundiais resgatassem seus recursos financeiros aplicados umas nas outras.

No auge da crise, o governo fez efetivamente uma diferença enorme, mas sem exatamente criar um céu de brigadeiro. Medidas emergenciais postas em prática pelas autoridades monetárias e fiscais estabilizaram o sistema financeiro mundial, evitando uma espiral descendente que poderia ter criado uma segunda Grande Depressão.

Depois que a crise passou, porém, ficou clara a severa limitação da capacidade governamental de engendrar uma recuperação rápida a partir de um colapso causado pelo endividamento excessivo. O manual de referência durante o mandato de Obama tem sido "This Time Is Different: Eight Centuries of Financial Folly" (desta vez é diferente: oito séculos de loucura financeira), um livro publicado em 2009 que adverte: "Crises bancárias tendem a ser episódios prolongados".

Os formuladores de políticas merecem uma parcela de culpa. A Casa Branca, o Congresso e o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) pecaram, todos, por falta de imaginação - pela incapacidade de ver que paliativos comuns não seriam suficientes para tirar os EUA de sua mais profunda recessão desde os anos 1930. Adeptos do Tea Party no Congresso foram contrários a gastos que gerariam déficits, o remédio padrão para uma economia com insuficiência de demanda. De início, o Fed preocupou-se demasiadamente com a inflação. Ao vender títulos de curto prazo ao mercado, ele usou sua mão esquerda para tirar o estímulo que estava gerando com sua mão direita.

Nada, nas últimas seis décadas, compara-se à crise que estamos vivenciando. Tecnicamente, a recessão terminou em junho de 2009, quando a produção parou de encolher. Mas quando você está num buraco profundo, não é suficiente parar de cavar. É preciso sair do buraco. Isso está acontecendo muito devagar.

As coisas não estão tão boas como parecem quando a economia está num pico, nem tão más quanto parecem no fundo do poço. No fim de 2012 o crescimento continua anêmico demais para "engatar" na linha de tendência. Mas a tendência de longo prazo para a economia é extremamente regular: na verdade, é reta como uma flecha. Se a história se repete, a taxa de crescimento da economia vai se acelerar e o hiato da produção será eliminado. Em outras palavras, no fim das contas, o país entrará numa bela era de rápida expansão.