Título: Periferia é o alvo em Salvador
Autor: Totti, Paulo
Fonte: Valor Econômico, 25/10/2012, Política, p. A7

Nada de Ondina, Amaralina, Barra, Pituba; muito menos Brotas, Graça e Federação. Os bairros que interessam neste segundo turno da eleição para prefeito de Salvador são desconhecidos dos turistas -e talvez, mesmo, de alguns políticos locais. O primeiro turno terminou com Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM) à frente de Nelson Pelegrino (PT) com a vantagem de 5.626 votos. É atrás desses votos que Pelegrino batalha numa entusiástica e estafante campanha de recuperação. Neto emula em empolgação e esforços na busca de, pelo menos, a conservação desses poucos milhares de votos num eleitorado de quase 1,9 milhões. Pelegrino comemora o apoio de Mário Kertész (PMDB), terceiro colocado no primeiro turno. E Neto, o apoio de Geddel Vieira Lima, vice-presidente da Caixa Econômica Federal e chefe do PMDB baiano.

Há duas semanas os candidatos percorrem os bairros da periferia em cenários bem diferentes da edílica orla, tropeçam em pontilhões erguidos sobre esgoto a céu aberto, sujam o sapato em montões de lixo. Pelegrino faz discursos para o povo pobre, e diz que a parceria com Dilma Rousseff, a presidente, Jaques Wagner, o governador, vai constituir a força para melhorara vida de todos- "força" é um dos slogan do petista. Neto abraça o povo pobre, beija mulheres gordas à frente de seus barracos e diz que vai, agora sim, apoiar o bolsa família, adotar bilhete único, com uma inovação: no domingo todo mundo paga meia passagem no transporte público - "domingo é meia", seu slogan.

Neto tem recebido pouco apoio de figuras de projeção nacional. Em seu partido, aliás, é ele a principal figura de projeção nacional. Do presidente do DEM, deputado Agripino Maia, foi beneficiado com a inestimável colaboração de R$ 4,5 milhões arrecadados - legalmente - entre o empresariado nacional, especialmente o de São Paulo;

Serviu para cobrir despesas, pelo menos, com as bandeiras azuis com que o DEM baiano promove o número de seu candidato (25) nas ruas de Salvador, da orla ou dos subúrbios.

Profusão de bandeiras - vermelhas, com o 13 em amarelo - foi o que se viu ontem na carreata que acompanhou a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha de Salvador, o que comprova que em matéria de recursos o PT também não está mal provido.

Foi a segunda participação de Lula nesta campanha ao lado de Pelegrino, apenas quatro dias depois de a presidente Dilma ter feito mesmo. No populoso bairro de Cajazeiras, Dilma fez um discurso descontraído, revelou a desinibição e o controle de palanque que faltaram eu sua própria campanha, mas empolgou-se e, na tentativa de fazer humor, exagerou. Ao lado de Pelegrino, de 1,90 m, disse que Salvador não merece um "governo pequeninho". Partidários de Neto consideraram que a presidente se referiu ao candidato deles (1,65 m) e a acusaram de preconceito. Raivosos missivistas da internet escreveram que Dilma ofendeu a Bahia toda, pois Ruy Barbosa tinha a estatura de Neto. Durou três horas a carreata de Lula pela região do subúrbio ferroviário, na Cidade Baixa de Salvador. Meia dúzia de minitrios elétricos com a estridente mensagem "Vem com 13, vem com 13, vem com 13" animaram a manifestação, realmente impressionante, pois nos 10 quilômetros, desde a Baixa do Fiscal até o Paripe, passando por bairros com os nomes de Rio Sena, Alto do Cabrito, Plataforma, Ilha Amarela, Santa Terezinha, Praia Grande, Periperi, as pessoas saudavam das calçadas com bandeiras do PT. Num clube de Paripe, um barracão lotado com capacidade para oito mil pessoas, Lula discursou para a multidão. Ao seu lado, o candidato Pelegrino e o vereador mais votado de Salvador na eleição do dia 7: o ex-governador e ex-ministro Waldir Pires, 86 anos.

A única pesquisa de segundo turno, divulgada até a noite de ontem, do Ibope, dava vitória a Neto, 54% a 46%, considerados apenas os votos válidos.