Título: Lula retoma conversas sobre o futuro do BC
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 23/02/2007, Política, p. A13

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, retomou anteontem os seus encontros periódicos com o presidente Lula, que haviam sido interrompidos em dezembro, pouco antes do recesso de fim de ano.

Desde a saída de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda, Meirelles vem mantendo encontros mensais com Lula, para discutir política econômica. Foram interrompidos no período de Natal e Ano Novo, e não houve espaço na agenda para retomá-los neste início de 2007, quando as atenções estavam voltadas para a formatação do Programa de Aceleração do crescimento (PAC) e para a reforma ministerial.

No mesmo dia, Meirelles se reuniu longamente com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Fontes do Palácio, da Fazenda e do BC dizem que foram debatidos assuntos apenas técnicos e negam que tenha sido discutida a permanência de Meirelles no cargo ou a saída de diretores mais ortodoxos da instituição. Na semana passada, autoridades com acesso a decisões do presidente informaram ao Valor que Meirelles permanecerá e já foi até confirmado por Lula, mas a diretoria aguarda as decisões das reuniões entre Lula e Meirelles.

Sobre sua permanência no BC, o próprio Meirelles disse à saída da Fazenda que o assunto ainda não foi decidido pelo presidente Lula.

A demora de Lula em definir o futuro do BC faz com que estas reuniões de rotina alimentem especulações sobre mudanças na orientação da política monetária. A indefinição do presidente é vista na área econômica como algo próprio do processo político. Já aconteceu antes - por exemplo, nas eleições de 2006, quando havia incertezas se Meirelles deixaria o cargo para se candidatar ao governo de Goiás. A leitura é que o estrago maior é causado por setores do PT que espalham a versão de que, agora, haverá uma política de juros expansionista. O movimento não é neutro - tem estimulado a formação de posições nos mercados de dólar e juros que dificultam a condução da política monetária e cambial, exigindo dose maior de juros para um mesmo efeito.

Isso já havia ocorrido em outras oportunidades . É o que diz o diretor de Política Monetária do BC, Afonso Bevilaqua, em estudo recentemente. "A credibilidade do BC foi negativamente afetada por uma noção equivocada de que o governo poderia negar o apoio a uma política monetária autônoma, orientada à estabilização da moeda", diz o texto, feito em co-autoria com outro diretor do BC, Mário Mesquita.

As incertezas políticas atuais têm estimulado alguns investidores estrangeiros a montar posições que apostam numa eventual mudança de orientação do BC. Entram com dólares no país, provocando a apreciação da moeda, e investem na curva de juros de curto prazo. Apostam em um relaxamento monetário, também de curto prazo, que levaria a rápidos ganhos (no longo prazo ninguém aposta, pois baixas artificiais na taxa de juros costumam ter vida curta).

A pressão baixista na curva de juros dificulta a vida do BC, que vem tentando mantê-la sob controle em um momento em que, na sua opinião, já há estímulos monetários suficientes na economia. Se uma parte do mercado financeiro aposta contra o BC, a dose de juros tem que ser maior.

A interpretação dos atuais ruídos políticos é que, embora sejam fortes o suficiente para mexer com o mercado, não fazem muito sentido. Um presidente da República que quer nomear diretores desenvolvimentistas no BC faz isso em silêncio. E se esforça para convencer o mercado de que se trata de economistas da linha mais ortodoxa possível.

A teoria econômica diz que os ganhos de curto prazo de uma política monetária inflacionária, em termos de crescimento econômico e baixa do desemprego, só ocorrem se forem inesperados. Se o mercado tiver a mínima desconfiança de que a política monetária será inflacionária, coloca isso no preço. O resultado é mais inflação sem aumentar o crescimento econômico.

Os rumores sobre mudanças no BC dão conta de que, a partir de agora, o presidente Lula vai definir os novos diretores do BC. Na verdade, essa tem sido a prática nas nove nomeações feitas até agora. Os nomes foram todos discutidos com o presidente Lula, que tem a prerrogativa de enviar mensagem ao Congresso indicando nomes para o BC.