Título: Tucano e petista fazem debate mais agressivo da campanha
Autor: Klein, Christian Cunto, Raphael Di
Fonte: Valor Econômico, 25/10/2012, Política, p. A9

Às vésperas do segundo turno da eleição, os candidatos à Prefeitura de São Paulo Fernando Haddad (PT) e José Serra (PSDB) realizaram ontem o debate mais virulento da campanha, com farta distribuição de acusações, farpas e ironias, no encontro promovido pela emissora SBT e pelo portal UOL. Os postulantes seguiram estratégias bem definidas e de rumos diversos. Haddad despejou números para demonstrar a ineficiência das gestões estadual e municipal, que apoiam Serra. Já o tucano procurou levar ao embate a bandeira da ética e da experiência para governar.

Logo no início, o petista já tomou uma atitude mais agressiva que Serra, que esteve menos afiado do que no encontro realizado na segunda-feira, pela TV Bandeirantes, e chegou a deixar sem resposta a pergunta do petista sobre como evitar enchentes na cidade. A todo momento, o tucano se viu diante da necessidade de reservar parte de seu tempo para rebater acusações feitas por Haddad em perguntas anteriores, mas deixou o adversário em situação delicada ao ir para o ataque no debate sobre ética, no qual Haddad balançou.

No primeiro bloco, Haddad citou dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado sobre o aumento nos índices de violência e questionou se o tucano, ex-prefeito e ex-governador, "teria responsabilidade" na questão e o que faria se eleito. Serra rebateu dizendo que a área "não é responsabilidade direta da prefeitura". "A situação da segurança é insatisfatória, mas melhorou muito em relação ao resto do Brasil", avaliou o tucano, que atribuiu parte da culpa ao governo federal, comandado pela presidente Dilma Rousseff (PT), pois "não combate a entrada de drogas no país".

A troca de acusações ficou intensa em uma questão aparentemente branda, sobre meio ambiente. Serra perguntou a Haddad suas propostas para a área e o petista afirmou que o cuidado com o meio ambiente está "intimamente ligado à questão social" e envolve a melhora no saneamento e na coleta seletiva. Serra atacou: "Sabe uma coisa que tenho inveja de você, Haddad? A capacidade de fugir do assunto, de não dizer nada. Eu vou fazer mais 50 parques na cidade". "O que você chama de parque são praças, e que estão mal cuidadas. O lixo está acumulando em todas elas", devolveu o petista.

Tema mais pedido pelos internautas para integrar o debate, a corrupção foi a deixa para que Serra levasse o julgamento do mensalão para a discussão. "Não podemos deixar de falar hoje no mensalão. Não é suspeita, é condenação por formação de quadrilha. E tem a ver com a prefeitura sim. Significa princípios, valores, companhias", disse Serra. "Teu desrespeito chega às raias da insanidade, trazer mensalão para cá? Do que você está falando? Você me conhece o suficiente para saber que eu tenho 12 anos de vida pública, 30 anos de vida acadêmica, que tenho uma reputação ilibada, não há sequer uma suspeita", defendeu-se Haddad, que lembrou a atuação do ex-diretor Hussain Aref Saab, investigado por adquirir mais de 120 imóveis nos sete anos em que ocupou cargo na Secretaria de Habitação nas gestões de Serra e Gilberto Kassab (PSD).

"Esse cidadão, o Aref, era alto assessor da Marta Suplicy, foi o principal assessor na época para elaboração do Plano Diretor. Quando foi descoberto, houve denúncias, o prefeito Kassab mandou para o Ministério Público e processou, tomou a medida correta", respondeu Serra. "A questão do mensalão envolve o partido, o método petista de usar governo como propriedade privada", continuou o tucano, que lembrou ter a gestão da petista Marta Suplicy (2001-2004) mais de 70 processos na Justiça. Voltando a citar o julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal (STF), Serra relacionou-o a Haddad. "Se ele [Haddad] não esteve envolvido com o mensalão, está com o partido que o fez".

O duelo entre o que é "coisa de rico ou de pobre", que norteou o debate na Band, virou a "questão social". Serra rechaçou a clivagem do carro-chefe do discurso petista depois que Haddad afirmou que a principal diferença entre as visões dos dois, na área ambiental, passaria pela questão social. O tucano minimizou o problema. Quando perguntou ao adversário sobre qual seria sua proposta na área cultural, completou: "Agora, não me venha com questão social". Haddad emendou em sua resposta: "Serra, eu sei que você não considera a área social".

Deu tempo até para o lançamento de cartadas de última hora, como a proposta que Serra chamou de "bilhete amigão", para a utilização de transporte no fim de semana, e que Haddad criticou em tom de deboche. "Eu fiz uma pergunta clara, por que a prefeitura ficou três anos sem limpar o Rio Tietê, e você vem com uma proposta de bilhete amigão?", ironizou o petista.

Na mesma seara, Serra divulgou pela primeira vez a proposta de aumentar o tempo de uso do Bilhete Único de três horas para seis horas. A ideia visa atingir os mais pobres, eleitorado que menos se identifica com o tucano, segundo as pesquisas. Na avaliação da equipe de Serra, o Bilhete Único Mensal prometido pelo PT é caro - custaria R$ 140 para utilização dos ônibus de forma ilimitada por um mês - e a extensão do tempo do bilhete atual tem mais apelo, já que continuaria custando os mesmos R$ 3.

Segundo Serra, a proposta beneficiaria 800 mil usuários do sistema de metrô, trem e ônibus. "Aquele bilhete mensal caiu na desmoralização. Foi uma proposta precipitada, muito confusa, em que não se sabe qual o desconto", atacou o tucano, em entrevista aos jornalistas após o debate. Curiosamente, a proposta de Serra não é uma novidade na disputa à sucessão paulistana: o candidato Levi Fidélix, do nanico PRTB, fez a exatamente a mesma promessa no primeiro turno. Ficou com a oitava colocação e 0,3% dos votos.

A postura de Haddad foi criticada por Serra. O petista havia proposto no debate anterior um pacto de não agressão - o tucano não respondeu na ocasião. "Depois que ele propôs esse pacto, o Tribunal Eleitoral nos deu três direitos de resposta por agressões [feitas na propaganda eleitoral]", afirmou Serra. "Ele propôs só para perfumaria, para impressionar, mas continua com a mesma postura agressiva, como, aliás, transpareceu no debate". A postura menos agressiva do tucano foi combinada com a coordenação de campanha devido ao horário do evento, com maior público de donas-de-casa e aposentados. Já a campanha de Haddad preferiu tratar a postura do candidato do PT como mais "assertiva e contundente".

Haddad negou que tenha reagido baseado no resultado de novas pesquisas. Tanto Datafolha quanto Ibope apontaram uma redução na sua vantagem para Serra, que mesmo assim ainda lhe dá uma posição relativamente confortável. "Não mudamos nada na nossa estratégia. Essa diferença está na margem de erro. É uma eleição dura, mas estamos muito seguros", garantiu. Os tucanos criticaram a agressividade, mas a tomaram como demonstração de preocupação com o resultado no domingo. "O Serra bateu em cima de propostas, e ele [Haddad] em ataques e hipocrisia", disse o deputado federal Walter Feldman, um dos coordenadores da campanha de Serra.