Título: Funcionalismo bate recorde na Venezuela
Autor: Souza, Marcos de Moura e
Fonte: Valor Econômico, 23/02/2007, Internacional, p. A15

Os programas e serviços sociais mantidos pelo governo da Venezuela já são os maiores geradores de empregos do país. São 3,4 milhões de funcionários públicos neste setor, o equivalente 31,1% da força de trabalho nacional. Boa parte dos trabalhadores - médicos, professores e enfermeiros - atuam nas chamadas "missiones", projetos do governo que levam serviços básicos a áreas pobres das cidades e que se converteram em uma das principais vitrines da agenda "socialista do século 21" do presidente Hugo Chávez.

De acordo com números de 2006 do Instituto Nacional de Estatísticas, publicados pelo jornal venezuelano "El Universal", os setores comercial e industrial empregam, respectivamente, 2,6 milhões de trabalhadores (23,8%) e 1,3 milhão (12%).

Apenas para comparação, o Ministério do Desenvolvimento Social do Brasil informa que 140 mil servidores públicos trabalham nas secretarias de assistência social ou similares no país.

Os serviços sociais de Chávez - reeleito pela terceira vez em dezembro - são um dos pilares de sua popularidade. "Em um ano conseguimos alfabetizar 1,5 milhão de pessoas com as missões e declaramos muitas regiões como áreas livres do analfabetismo", disse ao Valor o deputado Roberto Hernandez, segundo vice-presidente do Congresso Nacional.

"E é claro que esse empenho abre também muitas frentes de trabalho", acrescenta. Segundo o deputado, somente a missão de prestação de serviços de saúde emprega algo em torno de 30 mil profissionais, a maior parte deles médicos. Ele lembra que outros setores da economia também vem crescendo e gerando empregos no governo Chávez. "Nos anos 90, a Venezuela chegou a ter 29% de desemprego e hoje tem 10%."

Entre 2005 e 2006, o número de vagas de trabalho nos serviços sociais do Estado cresceu 2,6%. É uma taxa modesta, se comparada aos 7% de crescimento das vagas no setor industrial no mesmo período.

"A Venezuela vem passado por um mudança muito grande na estrutura de emprego. Durante anos, os governos venezuelanos diminuíram o tamanho do Estado, deixando a maior parte da criação de empregos para os setores privados da economia", disse Luis Vicente Leon, diretor do Datanálisis, um instituto privado de de análises econômicas de Caracas. "Nos últimos quatro ou cinco anos, o Estado começou a se ampliar e a ter maior participação na economia. Hoje cresce muito mais rápido que a economia", acrescenta.

E uma das implicações desse aumento recai sobre as contas do país, diz Leon. Os contratados para prestar serviços sociais ou em outras áreas do governo passam a ser servidores públicos com todos os direitos e benefícios da classe. Resultado: "O Estado está criando uma dívida trabalhista brutal".