Título: Para Fitch, os bancos devem ter capital acima do mínimo exigido
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 23/02/2007, Finanças, p. C10

A agência de avaliação de crédito Fitch Ratings considera adequado que os bancos mantenham um índice de capitalização superior ao mínimo exigido pelo Banco Central (BC) diante da volatilidade típica do mercado brasileiro. A informação consta de relatório divulgado ontem pela agência a respeito dos impactos da aplicação do novo acordo de capital mínimo dos bancos, chamado de Basiléia 2, no mercado brasileiro.

Ao final do primeiro semestre, os bancos brasileiros tinham um índice médio de capitalização de 18,3%, acima dos 11% mínimos requeridos pelo BC. Segundo a analista da Fitch, Valéria Salomão Garcia, o índice pode cair um pouco, em função do aumento das operações de crédito, mas o recomendável é que fique acima do mínimo.

A Fitch também joga um balde de água fria na expectativa dos bancos de que o BC reduza o capital mínimo exigido. Para dirigentes de bancos médios, isso seria um alívio à pressão que estão sofrendo para vender ativos e capital.

Para Valéria, Basiléia 2 pode até reduzir as exigências de capital dos bancos para cobrir riscos de crédito, uma vez que as operações de varejo terão um fator de ponderação de 75%, inferior aos 100% atuais. Mas, uma das novidades introduzidas pelo novo acordo foi exigir capital também para os riscos operacionais. Por isso, ao final, o índice deve permanecer igual, acredita Valéria.

Outro avanço importante de Basiléia 2 foi permitir que os bancos usem modelos internos de avaliação de risco, desde que validades pelos bancos centrais. A expectativa é que os modelos internos, mais sensíveis do que a abordagem padronizada de avaliação, reduzam as exigências de capital, melhorando a competitividade.

O BC divulgou um cronograma de implantação de Basiléia 2 no Brasil que vai até 2011. Para a autoridade, a maioria dos bancos brasileiros deve adotar a versão simplificada da abordagem padrão. Mas, as de maior porte e atuação internacional poderiam optar pela abordagem mais avançada.

A analista acredita que a adesão dos bancos brasileiros aos modelos mais avançados é inevitável e desejável dado o grau de internacionalização, não importa o porte. Se os grandes bancos estão presentes no mercado externo inclusive com ações, os médios têm recentemente emitido muitos títulos internacionais de renda fixa.

O fato de o mercado financeiro brasileiro ter capital predominantemente nacional coloca um desafio para o BC, diz a Fitch no seu relatório. Em outros mercados da América Latina, disse Valéria, o capital estrangeiro domina e, nessa situação, a responsabilidade sobre a avaliação das novas exigências de capital mínimo é dividida com o banco central do país de origem da instituição. No Brasil, segundo a Fitch, os bancos estrangeiros dominavam 20,9% do mercado; os públicos, tinham uma fatia de 41,7%; e os privados de capital nacional, de 37,36%. Os dez maiores abocanhavam 70,58% dos ativos no fim do primeiro semestre.