Título: IOF breca estrangeiro
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 26/11/2010, Economia, p. 17

CONTAS PÚBLICAS Aumento do imposto sobre entrada de capital externo em renda fixa reduz participação dos investidores externos no endividamento federal de 10,23% do total para 10,19%

A aplicação da alíquota de 6% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) na entrada de capital em operações de renda fixa no Brasil afastou os estrangeiros dos títulos da dívida pública. A participação dos investidores externos no endividamento federal caiu de 10,23% em outubro para 10,19% em novembro, no primeiro recuo percentual desde abril. O fluxo de recursos, entretanto, continuará sendo atraído pelos atrativos juros pagos pelo Tesouro Nacional. Segundo analistas, os papéis devem ficar ainda mais interessantes com a provável elevação da Selic ainda este ano.

Segundo o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Fernando Garrido, apesar da queda percentual, o montante nominal detido pelos estrangeiros teve um pequeno aumento de R$ 1,2 bilhão ¿ quase nada, se comparado à escalada dos últimos meses. ¿Tivemos uma presença menor dos não residentes nos leilões, o que reflete o IOF. É natural que, depois da medida, os investidores parem para refletir¿, comentou.

Além do imposto, Garrido ressaltou que o aumento da tensão no mercado europeu também contribuiu para a queda da demanda externa nas operações do Tesouro. O coordenador enfatizou que a expectativa é de que a participação dos estrangeiros retome a trajetória de avanço. ¿Como são movimentos de mercado, é difícil atribuir a um único fator, porque outros também influenciam bastante. Acreditamos, no entanto, que essa parcela vai continuar aumentando gradativamente¿, completou.

O gerente de câmbio da Fair Corretora, Mário Battistel, concorda. ¿O máximo que pode acontecer é o investidor alterar um pouco o perfil de suas aplicações para prazos mais longos. Mas, como traz os recursos em dólar e, portanto, não tem impacto negativo do câmbio (uma vez que o real está valorizado), os juros que ele leva daqui são reais¿, analisou. Para o economista, mesmo que outros países ofereçam rentabilidade maior em seus títulos, as aplicações no Brasil garantem retorno sem riscos, o que não ocorre em outros emergentes.

Prêmio A demanda externa, segundo Garrido, foi ¿significativamente menor¿ no início de novembro e acabou por elevar o prêmio exigido pelos compradores (taxa de juros que o Tesouro se compromete a pagar) no período. Como exemplo, o coordenador destacou o leilão de Letras do Tesouro Nacional (LTN) com vencimento em 2013, realizado em 30 de setembro, que atingiu taxa de 11,98%. Os juros do mesmo papel, negociado em 18 de novembro, chegaram a 12,30%.

Para o superintendente executivo de Gestão de Renda Fixa do Santander, Eduardo Castro, a procura dos estrangeiros deve aumentar conforme o mercado internacional se tranquilize, independentemente do IOF. ¿Os investidores que procuram aplicações mais longas vão retornar. Os que buscam investimentos mais rápidos provavelmente irão desaparecer de forma mais estrutural, mais definitiva¿, considerou.

O Tesouro não teve dificuldades para rolar a dívida no mês passado. O estoque total subiu 1,15%, atingindo R$ 1,644 trilhão, em função da emissão líquida (lançamentos superiores a resgates) de R$ 4,2 bilhões.

PANAMERICANO SOB SUSPEITA DESDE JULHO As fraudes na contabilidade do Banco PanAmericano foram levadas em consideração pelo Comitê de Política Monetária (Copom) desde a reunião de julho, ainda que o Banco Central não tivesse identificado, na ocasião, que a instituição estava gerando potenciais desequilíbrios no sistema financeiro por meio de operações de crédito irregulares. Foi o que revelou ontem o presidente do BC, Henrique Meirelles, em reunião com economistas. ¿O relevante é que o BC tinha a informação de que havia um problema no Copom de julho e de setembro¿, disse. Segundo ele, o PanAmericano apresentava-se como um ¿risco importante¿ para as condições de crédito futuras, dependendo de como o seu rombo ¿ de R$ 2,5 bilhões ¿ fosse equacionado. As irregularidades cometidas pelo banco controlado por Silvio Santos só foram reveladas em 9 de novembro.