Título: Ainda é cedo para falar em retomada de investimentos
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2012, Brasil, p. A3

São duas as principais mensagens da Sondagem Industrial de setembro, divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI): ainda é cedo para falar em retomada dos investimentos que garantirão o crescimento sustentado; o ajuste nos estoques das empresas permite dizer que uma política que assegure a continuidade da demanda tem chances de estimular a ampliação do parque industrial - e os investimentos.

A produção recuou em setembro, na comparação com agosto. O indicador da CNI ficou em 47,1 pontos (numa escala em que 50 significa manutenção da produção, e acima disso, ampliação). Em agosto foi o contrário, a produção industrial estava bem acima do esperado (54,7). O mais notável foi o ajuste de estoques, cujo índice ficou em 50, apontando satisfação das empresas com a situação. "É uma excelente notícia: a queda da produção, diferentemente dos períodos anteriores, provocou ajuste nos estoques", disse o analista da CNI Marcelo Souza Azevedo.

Apenas no Sul os estoques efetivos estão bem acima do planejado. No Sudeste estão um pouco além do que previam as indústrias, mas no Nordeste há equilíbrio, e no Norte e Centro-Oeste estão até abaixo. Em todas as regiões há capacidade ociosa e é sensível a queda de produção no Sudeste e no Sul. No Nordeste, há crescimento.

A notícia é boa porque, com estoques ajustados, após um processo iniciado em maio, pressões adicionais de demanda terão reflexo imediato no aumento da ocupação das fábricas, reduzindo a capacidade ociosa e gerando incentivos ao investimento. Em setembro, o indicador da utilização de capacidade industrial efetivo em relação à capacidade instalada ficou em 43,8. Em agosto, tinha sido de 46,2 e, em julho, 43,4.

Claro, a situação não é igual em todos os setores: os fabricantes de vestuário, calçados e produtos de informática e ópticos ainda se queixam de estoques acima do desejado, além de 54 pontos.

Chamam a atenção os indicadores negativos sobre situação financeira das indústrias: no terceiro trimestre, ela melhorou em 16 dos 28 setores pesquisados, mas apenas um segmento, o de bebidas, mostra-se satisfeito com seu lucro operacional, e só o setor de biocombustíveis não se queixa de dificuldades no acesso ao crédito. As empresas não apontam mais os juros como grande problema, mas têm dificuldades em obter financiamento, aparentemente devido à maior cautela dos bancos, temerosos com o aumento da inadimplência. A ação dos bancos estatais pressionando a oferta de crédito pode ter um papel importante para enfrentar esse problema.

Os economistas da CNI tinham expectativa de melhoria da situação da indústria neste ano. Agora acreditam que o trimestre que começa neste mês poderá finalmente mostrar uma mudança na situação, reflexo das medidas de incentivo governamentais e da queda nas taxas de juros. Mas, devido à persistência da alta capacidade ociosa, ninguém se arrisca a apostar no crescimento dos investimentos em curto prazo, embora se mantenha a expectativa de boas notícias, em ritmo lento, nesse campo a partir de 2013.