Título: Problema com inseticida provoca batalha "político-agroindustrial"
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 01/03/2007, Agronegócios, p. B19

Uma explosão no tanque de envase da fábrica da Bayer CropScience em Belford Roxo (RJ), em 16 de janeiro, desencadeou uma nova batalha na disputa empresarial pelo mercado de defensivos agrícolas do país. O incidente paralisou a produção do Tamaron, inseticida usado contra a lagarta da soja, que tem a droga metamidofós como princípio ativo.

É um nicho do mercado com vendas de 24 milhões de litros e receita da ordem de US$ 120 milhões por ano. Deste universo, a Bayer mantinha uma fatia de aproximadamente 40% até o episódio. O tranco no mercado acontece justamente no momento em que a produção de soja volta a se aquecer, depois de anos de estagnação. A nova safra começa a ser plantada em agosto.

Procurada, a Bayer CropScience informou que desde o incidente vem tomando as medidas necessárias para evitar o desabastecimento. A empresa não confirmou se negocia o fornecimento do ingrediente ativo por meio de outras empresas do mercado ou se buscará importar o produto.

A vulnerabilidade da Bayer CropScience atiçou o apetite da principal concorrente, a empresa nacional Fersol, que hoje vende 6 milhões de litros do produto, mas afirma ter capacidade para produzir toda a demanda do mercado nacional. Com isso, de competidora a Fersol quer tornar-se - ao menos por algum tempo - a fornecedora exclusiva da Bayer CropScience no Brasil.

As negociações começaram logo após a explosão em Belford Roxo. Mas estão em um impasse. Segundo o controlador da Fersol, Michel Haradom, a Bayer propõe um contrato de fornecimento de um ano - o tempo mínimo para restabelecer a produção no Rio - e uma encomenda de 3 milhões de litros, ou um terço do que a empresa vendeu em 2006. A Fersol quer muito mais: um contrato de três anos com venda de 10 milhões de litros.

Sem estabelecer uma dependência de seu principal concorrente, a alternativa para a Bayer seria tentar importar o produto. Um caminho cheio de dificuldades: por ironia, a empresa pediu ao Ministério da Agricultura o cancelamento do registro para importação do México no fim do ano passado, meses antes da explosão. Para obter outro registro, é preciso iniciar um processo que leva anos. A alternativa seria uma licença para importação emergencial.

A hipótese levou a Associação Brasileira dos Defensivos Genéricos (Aenda), da qual a Fersol é associada, a entrar em campo. "Seria desconfortável se fosse feita uma importação. Licenças de registro especiais só se justificam em casos excepcionais, como o de uma doença nova, por exemplo", afirmou o presidente da entidade, Túlio Teixeira. De acordo com o Ministério da Agricultura, nenhuma empresa ainda formalizou pedido de importação do produto.

Paralelamente, a Fersol mobiliza-se para criar um ambiente desfavorável à importação. Enviou cartas sobre a sua capacidade de atender a todo mercado nacional até para o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), maior produtor individual de soja do mundo. Também receberam cartas o Ministério da Agricultura e entidades de classe como Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina (Abifina), Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef).

Sem filiação partidária, Haradom tem ligações políticas antigas: faz parte do pequeno núcleo de empresários que apóia o presidente Lula desde a sua primeira campanha presidencial, em 1989. (Colaborou Cibelle Bouças)