Título: Analistas esperam IPCA maior que 4,5% em 2013
Autor: De Lorenzo, Francine
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2012, Brasil, p. A4

São poucas as mudanças esperadas no perfil da inflação para 2013. Na avaliação dos economistas consultados pelo Valor, as pressões sobre os preços continuarão sendo generalizadas, podendo se intensificar diante do reaquecimento da atividade econômica no Brasil e, possivelmente, da economia global. Também não estão descartados novos choques de commodities, como o que atingiu os grãos neste ano e cujos reflexos já chegam ao bolso dos consumidores.

Juntos, esse fatores prometem manter o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acima do centro da meta, de 4,5% ao ano, em 2013, apesar da expectativa de crescimento mais modesto na massa salarial e de menor pressão dos administrados. A mediana das previsões realizadas para o Boletim Focus, do Banco Central, aponta alta de 5,42% no IPCA em 2013, nível semelhante ao previsto para este ano, de 5,44%.

Ainda que as pressões originadas das quebras de safra de grãos na América do Sul e nos Estados Unidos neste ano sejam aos poucos dissipadas, diz o economista do Banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal, os alimentos continuarão responsáveis por grande parte da inflação no ano que vem. Segundo ele, mesmo com a normalização das colheitas no Brasil e na Argentina, os estoques continuarão baixos. "Além disso, os países emergentes estão crescendo, puxados pelo aumento da classe média. É exatamente essa população que mais tem força para aumentar o consumo de alimentos e sustentar os preços em níveis altos", afirma.

Dados compilados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostram que o Brasil não é o único país da América Latina em que há perspectivas de avanço da inflação em 2013. Dos oito países da região estudados - Brasil, Chile, Colômbia, Guatemala, México, Paraguai, Peru e Uruguai -, apenas três (México, Peru e Uruguai) aparecem com projeção de inflação para 2013 menor que a estimada para este ano.

Nesses países, a exemplo do Brasil, alimentos também devem se destacar como a principal pressão inflacionária, segundo o economista da Austin Ratings, Rafael Leão. "Quanto menos desenvolvido é o país, maior é o peso da alimentação na inflação", diz. Ele ainda lembra que o aumento de liquidez proporcionado pelo novo programa de recompra de títulos do governo americano - o chamado quantitative easing 3 (QE3) - eleva o potencial de alta das commodities devido a movimentos especulativos. "E no caso de produtos agrícolas, sempre há o risco de problemas climáticos", afirma o economista-chefe da CGD Securities, Mauro Schneider.

A abundante liquidez no ambiente global, de acordo com a LCA Consultores, é um dos fatores que fazem com que as projeções de 20 dos 26 países que adotam sistema de controle de inflação superem o centro da meta estabelecida para 2013. Os incentivos à retomada da atividade econômica adotados pela maioria desses países, incluindo o Brasil, ajudam a compor um cenário de preços mais altos, aponta a LCA.

A partir de meados do próximo ano, segundo a consultoria, o maior risco para a economia brasileira deixará de ser o baixo crescimento para se concentrar na inflação. Na semana passada, entretanto, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) destacou a "perspectiva de que o período de fragilidade da economia global seja mais prolongado do que se antecipava", como um argumento para cortar em mais 0,25 ponto percentual a taxa básica de juros (Selic), atualmente em 7,25% ao ano. A contribuição desinflacionária do ambiente externo é vista com ponderação pelos analistas.

Para o professor do Ibmec, Gilberto Braga, já há indícios de que a economia mundial tende a se recuperar em 2013. "As questões que despertavam dúvidas no mercado estão sendo esclarecidas. As economias centrais vão se acelerar e isso provavelmente intensificará as pressões inflacionárias. É por isso que os economistas projetam novo ciclo de aumento nos juros no ano que vem", afirma. No Boletim Focus, as projeções colocam a taxa Selic em 8% ao ano no fim de 2013.

A melhora na economia global e na atividade doméstica, dizem os analistas, manterá baixo o desemprego no Brasil. Com isso, acrescentam eles, ainda que os salários subam menos, a inflação de serviços se sustentará acima do IPCA.

Os preços administrados, que neste ano pressionaram menos devido às eleições municipais, em 2013 terão o alívio da redução nas tarifas de energia elétrica. "Se não fosse por isso, o grupo iria acelerar", afirma Leal, do ABC Brasil. "É pouco provável que a inflação em 2013 ultrapasse a de 2012, a não ser que venha um reajuste de combustíveis."

O aumento nos preços da gasolina e do diesel e o fim da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para bens duráveis ainda são incógnitas nos cálculos de inflação para 2013. "O governo criou uma armadilha para ele mesmo. O simples fato de não renovar o IPI significa uma inflação 0,5 ponto percentual mais alta no ano que vem", avalia Braga.

Mas ainda existe, segundo os analistas, espaço para novas medidas que podem promover uma certa folga inflacionária. Entre as hipóteses consideradas está a desoneração da cesta básica, em estudo pelo governo.