Título: Consultas ao BNDES crescem 45% em nove meses
Autor: Saraiva, Alessandra
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2012, Brasil, p. A4

Novos projetos industriais e de infraestrutura, favorecidos por estímulos à economia lançados pelo governo em meados deste ano, levaram a um salto de 45% nas consultas de crédito ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de janeiro a setembro, ante igual período no ano passado. Até agosto, as consultas subiam em ritmo menor, com alta de 42% no acumulado do ano. Primeiro passo para tomada de crédito no banco, e termômetro do interesse do empresariado por investimentos, os pedidos de financiamento totalizaram R$ 200 bilhões nos primeiros nove meses.

Somente em setembro, os pedidos por crédito subiram 64,4% ante setembro do ano passado, somando R$ 33,1 bilhões no mês. Na prática, o desempenho indicaria retomada mais forte da economia para os próximos meses, com sinais de recuperação mais "generalizados" no setor industrial, avaliou o superintendente da área de Planejamento do banco, Cláudio Leal.

Mas a intensidade do crescimento nas consultas não foi equivalente ao observado nos desembolsos, que operaram em ritmo bem mais fraco. De janeiro a setembro, as liberações cresceram apenas 3% ante igual período em 2011, totalizando R$ 94,6 bilhões. Em setembro, os desembolsos subiram 20,5% ante setembro de 2011, para R$ 13,4 bilhões. No âmbito setorial, houve aumento de 18% nos desembolsos para a indústria (R$ 33,486 bilhões) e queda de 18% nas liberações para infraestrutura (R$ 31,026 bilhões), de janeiro a setembro, ante os primeiros nove meses de 2011.

"Os desembolsos representam o passado", frisou o superintendente. Ele acrescentou que, no acumulado ao ano, houve aumentos de 30,3% nas consultas para indústria, e de 62% para infraestrutura. Essas taxas de crescimento, segundo ele, foram estimuladas por ações de redução de juros e de desoneração tributária, lançadas pela União em meados deste ano - que também impulsionaram o Programa BNDES de Sustentação do Investimento (BNDES-PSI). Com juros cortados quase pela metade, para 2,5% ao ano, os desembolsos de janeiro a setembro da linha totalizaram R$ 27 bilhões, 29% das liberações totais do banco no período. A expectativa é que, com juros menores, o ritmo das liberações no âmbito do PSI acelere nos próximos meses, afirmou Leal.

Entre os destaques positivos nos pedidos por crédito originados da indústria, de janeiro a setembro, o superintendente citou empreendimentos do setor de química e de petroquímica. O avanço no número de projetos de petróleo, devido à exploração do pré-sal, impulsionou investimentos de fornecedores industriais para o setor.

"Mas temos de ser realistas nessa recuperação do setor industrial", ressaltou. Para Leal, os sinais de retomada da indústria mostrados até o momento, registrados tanto no BNDES, quanto em sondagens da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Fundação Getulio Vargas (FGV), precisam ser observados de perto, para mensurar se a retomada será sustentável ou não.

Já nas consultas para infraestrutura, os pedidos de empréstimo para três aeroportos, com concessões já licitadas, foram destaque nos pedidos do setor, no acumulado de janeiro a setembro. Na semana passada, o banco aprovou R$ 1,2 bilhão de empréstimo-ponte para o aeroporto de Guarulhos (SP). Em recente entrevista ao Valor, o superintendente da área de infraestrutura do BNDES, Nelson Siffert, afirmou que os próximos empréstimos-ponte para aeroportos devem ser concedidos aos consórcios que ganharam as concessões para explorar Brasília (DF) e Viracopos (SP).

Mesmo declarando-se otimista em relação à evolução de investimentos no país, o superintendente ressaltou a necessidade de crescimento na participação do capital privado, em mecanismos de financiamento de longo prazo na economia brasileira. Na análise do técnico, tendo em vista a magnitude da necessidade de investimentos para os próximos anos, não é razoável supor que o BNDES possa continuar a principal opção entre os tomadores de empréstimo, nos diferentes setores da economia.