Título: Zona Franca está no centro da disputa em Manaus
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2012, Política, p. A6

Ontem foi o senador Aécio Neves, provável candidato do PSDB à sucessão de 2014, quem desembarcou em Manaus (AM) para manifestar apoio ao ex-líder tucano no Senado Arthur Virgílio Neto. O segundo turno tem um viés nacional, mas a questão dos amazonenses é local, embora diga respeito ao país como um todo.

Manaus é um colégio eleitoral pequeno, mas também uma espécie de cemitério dos tucanos nas eleições presidenciais. Em 2010, Dilma não pôs os pés na cidade, mas levou 80% dos votos.

Na segunda-feira à noite, fez comício com a candidata da base governista, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB), e tocou no pior pesadelo dos manauaras, responsável pelo péssimo desempenho do PSDB na cidade: o fim da Zona Franca de Manaus.

Dilma disse que o PSDB está e sempre esteve contra a Zona Franca. Ela prometeu estender por 50 anos a validade da ZFM.

Na realidade, o medo dos manauaras em relação ao fim da Zona Franca vem dos tempos da Assembleia Constituinte, quando o hoje candidato do PSDB em São Paulo, José Serra, questionou a concessão dos subsídios.

A questão pegou Serra em cheio em 2002, quando ele teve apenas 10% dos votos válidos de Manaus, no primeiro turno da eleição da capital do Amazonas.

Mas a desconfiança dos manauaras era com o PSDB, um partido muito identificado com São Paulo: quatro anos depois, na eleição de 2006, Alckmin teve os mesmos 10% dos votos válidos, no primeiro turno, disputando contra um Lula que revertera a crise do mensalão e estava forte no cargo.

Em 2010, um novo massacre: Dilma teve 516.500 votos válidos em Manaus, contra 61.290 de José Serra, também no primeiro turno.

As indústrias instaladas na Zona Franca de Manaus têm isenção de importação e exportação, desconto do ICMS e isenção municipal de dez anos do IPTU. O prazo de vigência da Zona Franca vem sendo prorrogado desde a Constituinte e está previsto, legalmente, até 2023.

Ainda não está claro se Dilma pretende prorrogar o prazo de vigência a partir de 2012, quando fez a promessa, ou de 2023. Em janeiro passado, a ZFM empregava diretamente 120 mil pessoas, um recorde para o período.

A desconfiança dos amazonenses em relação ao PSDB não é à toa. Além da atuação de Serra na Constituinte, recentemente, em plena campanha do primeiro turno, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade questionando os incentivos fiscais concedidos a indústrias instaladas na ZFM.

Com habilidade, Dilma colocou a questão da Zona Franca na base do nós contra eles: "Ninguém joga sozinho. É fundamental que a gente tenha um time", disse. Ou seja, o time dela e de Vanessa é a favor da ZFM; o de Arthur Virgílio, contra. Não é à toa que Virgílio ameaçou sair do PSDB, depois da ação de Alckmin no Supremo.

Aécio Neves, que é mineiro, talvez tenha condições de reverter a situação dos tucanos em Manaus, em eleições presidenciais. Muito do receio dos amazonenses se deve ao fato de os candidatos tucanos - Serra e Alckmin - serem de São Paulo, Estado tido por eles como inimigo da área livre.

Seja como for, o modelo da Zona Franca de Manaus já é discutido em termos alternativos, a longo prazo, quando poderia se tornar ou incorporar produtos da floresta para a exportação.